terça-feira, 30 de setembro de 2014

Documentário "Araucária", do Coletivo gaúcho Catarse



Segue vídeo do Documentário "Araucária", do Coletivo gaúcho Catarse, dirigido pela jornalista Júlia Aguiar, que está a disposição para ser visto na internet. Segundo a página do Le Monde Diplomatique "a produção é uma busca poética e reflexiva em torno da majestosa espécie arbórea"


De acordo com a página do Le Monde, "Organizado nos princípios do cooperativismo, da autogestão e da economia solidária, o Catarse mobiliza-se sob os motes: Responsabilidade de expressão, comunicar para transformar.  Para conhecer o acervo desta década de vídeos, fotos, textos, artes gráficas e publicações que contam histórias de protestos, movimentos sociais e resistências culturais visite a página http://coletivocatarse.com.br/"

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

InGá obtém liminar na Justiça para adiar deliberação sobre matéria de atualização da Resolução 102/2005 no Consema


Neste dia 17 de setembro de 2014, o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), entidade ambientalista no Conselho Estadual de Meio Ambiente do RS (Consema), obteve liminar, por meio de ação civil pública movida no Tribunal de Justiça do Estado, cancelando  a votação de propostas de atualização de Resolução 102/2005 do Consema. A liminar foi obtida, em ação elaborada pelo Advogado Marcelo Mosmann, por meio de decisão da juíza Nadja Mara Zanella, que garantiu prazo regimental para apresentação de manifestação de Conselheiros.

A situação deu-se a partir de uma reunião extraordinária do Conselho, ocorrida no dia 11 de setembro de 2014, em que tinha como pauta principal a apreciação da matéria que previa a atualização de Resolução 102/2005, que define atribuições em licenciamento municipal e tipologias de atividades a serem licenciadas pelos municípios. O Presidente do Conselho manteve a decisão de dar somente uma semana para nova deliberação (18 de setembro) após pedido de vistas pela entidade Mira Serra. O Ingá tinha apelado para mais um mês de prazo, devido à complexidade da matéria, inclusive que tem incidência em remanescentes da Mata Atlântica e campos nativos no Rio Grande do Sul, que podem ficar sujeitos a fragilidades de licenciamentos em municípios. De forma rápida, o presidente colocou sua proposta em processo de votação, sendo acolhida por maioria do plenário. 

A ação do Ingá se baseou no descumprimento dos artigos 4 da Resolução n. 64/2004 que assegura pelo menos 15 dias para avaliação da matéria e elaboração de parecer de pedido de vistas, situação que foi negada, disponibilizando-se por meio de decisão da Presidência do Conselho somente 2,5 dias úteis para a análise da matéria e entrega de pareceres. As entidades também  destacam o descumprimento do prazo de pelo menos 72 horas para disponibilização das matérias.

Na ação, a juíza admite que “não há dúvidas acerca do cerceamento do prazo para manifestação dos Conselheiros, já que cópia do projeto foi disponibilizada no dia 12 de setembro de 2014 às 14h e o prazo para eventuais alterações e sugestões encerrava-se no dia 16 de setembro às 12h”, e também destaca que “observa-se que a Secretaria do CONSEMA ao realizar as intimações não observou nenhum dos dois prazos supra citados. Deste modo, não respeitado o devido processo administrativo para a votação da nova resolução do CONSEMA em substituição a Resolução nº 102/2005, a matéria deve ser retirada de pauta, a fim que sejam respeitados os prazo regimentais com a possibilidade de vista e manifestação prévia pelos conselheiros."

Apesar disso, após as 18 h do dia 17 de setembro, a secretaria do Consema manteve comunicação, por email aos conselheiros, de que daria sequencia à reunião do dia 18, onde está prevista a discussão e deliberação sobre a matéria, encaminhando anexo com uma tabela, sem as manifestações de pedido de vistas das entidades que encaminharam seus pareceres em prazo estipulado.

Segue o despacho, a seguir

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Realizada a reconstituição dos casos de desaparecimento e morte de trabalhadores da Papeleira Laja, da CMPC, em 1973 (sul do Chile)



Há 41 anos, no dia do Golpe Militar no Chile, 19 pessoas (sendo 14 trabalhadores da CMPC), mais 5 pessoas, entre estudantes e professores, da cidade de Laja, no sul do Chile, foram chacinados e investigações foram retomadas nas últimas semanas e, com elas, se denuncia cumplicidade da empresa CMPC naquele país.

Matéria de El Clarin de Chile

Maria Eliana Vega (5 de setembro de 2014)
foto El Clarin de Chile
Uma nova reconstituição dos acontecimentos que culminaram com a detenção e morte de mais de uma dúzia [14] de trabalhadores da Papeleira Laja, da CMPC, foi realizada nesta quinta-feira por Carlos Aldana, ministro em visita para causas de direitos humanos, que realizou diligências no juizado local, no interior da área da papeleira e em um terreno diferente de onde se praticou a primeira reconstituição, em agosto de 2011.

Desta vez, o ministro Aldana procurava investigar a participação de civis na detenção dos trabalhadores que foram executados logo após o golpe militar de 11 de setembro de 1973.

Ele realizou a primeira diligência no Juizado de Letras de Laja, onde ouviu depoimentos e confrontou ex-executivos da unidade industrial de Laja com os dez ex-carabineiros processados nessa causa, e também com testemunhas dos fatos.


Terminada essa diligência, a comitiva composta por oito veículos da PDI (Policia de Investigaciones de Chile), além do apoio de pessoal de Carabineiros, deslocou-se para a entrada da empresa, com a finalidade de saber como eram apartados os trabalhadores, quais deles lidavam com as listagens e se efetivamente pessoal policial da época ingressou nas instalações da empresa para realizar as detenções.


Ali, já se encontravam reunidos familiares e amigos das vítimas que, a viva voz, gritavam, ao ingresso dos veículos policiais, os nomes dos que tinham sido autores dessas execuções. Nesse local, se soube como foram detidos os trabalhadores entre os dias 11 e 17 de setembro de 1973. Os primeiros foram transferidos ao Regimento de Los Ângeles, enquanto os que foram detidos entre 15 e 17 de setembro foram levados ao destacamento da rua Las Viñas, na comuna de Laja, e posteriormente foram executados em uma área pertencente à empresa papeleira.

Em frente à empresa, dois trabalhadores mostraram ao ministro Aldana, com a presença de um ex-executivo, como eram identificados, retirados das filas e posteriormente golpeados, em um canto de acesso à CMPC, para logo em seguida serem retirados dali, em diferentes veículos. Com essas diligências, buscava-se deixar claro os vínculos que teriam a empresa e os altos executivos da mesma no ano desses acontecimentos.


 Posteriormente, as diligências se deslocaram para a rodovia Ruta 90, a 24 km de Laja, especificamente em um novo local, denominado Fundo San Ignácio, onde camponeses assinalaram onde seria o local exato em que ocorreram as execuções. Uma vez realizados todos os trabalhos investigativos, tomando-se os depoimentos tanto dos camponeses como dos ex-carabineiros, o ministro Carlos Aldana conversou com os meios de comunicação, assinalando que no local se pôde tomar conhecimento sobre “as formas como eram realizadas as detenções, quem as realizaram e que informações tinham para escolher as pessoas..” Consultado a respeito da responsabilidade que a empresa privada  ou civis poderiam ter nesses acontecimentos, respondeu que “toda a informação está sendo por nós processada, e essa não é uma questão que eu possa responder agora”.

Em relação ao local, que não é o mesmo onde foram foi realizada a reconstituição dos fatos há três anos, o ministro explicou que a ideia foi “estabelecer uma aproximação com local exato onde teria havido a execução dessas 19 pessoas”, verificando, com as novas informações, se efetivamente era aquele o local”.


Quanto ao prazo que possui para encerrar a investigação, disse que “se está  trabalhando com toda a celeridade que permitem nossas capacidades...” Carlos Aldana mostrou-se próximo aos familiares, permitindo-lhes conhecer em primeira mão algumas informações sobre o processo. Uma delas foi a declaração dos camponeses, afirmando saber onde se situava o local onde houve as execuções. Nesse sentido, o ministro acrescentou que “tem sido uma política adotada com todos os familiares e todas as agrupações que têm acesso às informações que nós temos. Para os familiares, que precisam ter a paz que qualquer pessoa necessita para saber onde e de que forma foram executados seus entes, é muito importante que eles estejam presentes nas diligências e saibam quais as informações que nós possuímos”.

Por sua parte, o diretor nacional da Brigada de Homicídios da PDI, Sergio Claramunt Lavín, conseguiu a participação de cerca de 25 funcionários do órgão na região, com o apoio de veículos e de seu Laboratório de Criminalística de Concepción, somando a perícia fotográfica, perimétrica e audiovisual para levar adiante as diligências solicitadas pelo ministro e que permitam esclarecer os acontecimentos ocorridos em setembro de 1973.

O diretor Claramunt expressou que “é uma investigação que vem sendo feita há anos, e conseguiu-se a cooperação de todas as pessoas nesta ação, e como se passou tanto tempo, devemos nos aproximar das pessoas para que possam cooperar, conseguimos boas informações e se pode assim estabelecer responsabilidades”, ressaltou. Com as informações levantadas na diligência, o ministro Aldana contará com novos elementos para decidir os próximos passos nesta investigação. 


tradução de Renzo Bassanetti

Mais informações sobre a "Chacina de Laja", e denúncias em relação a CMPC, no Chile:

Segue Informe Policial, da Polícia de Investigações do Chile (2011):
http://ciperchile.cl/wp-content/uploads/informepolicial.pdf
 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Carta do MST às candidatas e candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais

Os períodos eleitorais devem ser momentos de debate sobre as grandes questões estruturais da sociedade brasileira, apontando a natureza de nossos problemas e as soluções necessárias. Infelizmente, cada vez mais, o poder do capital sequestra a política e as instituições públicas, impedindo as transformações políticas e econômicas, que interessam ao povo brasileiro.
 
Há 30 anos, o MST tem contribuído com a democratização da terra, através da luta pela Reforma Agrária. Em fevereiro de 2014, realizamos nosso VI Congresso, com a aprovação de nosso Programa Agrário em defesa da Reforma Agrária Popular. Lutamos por mudanças na relação com os bens da natureza, na produção de alimentos e nas relações sociais no cam­po. Queremos contribuir de forma permanente na construção de uma sociedade justa, igualitária e democrática.
 
 A terra precisa ser democratizada e cumprir com sua função social. O campo dever ser um espaço bom de viver, onde as pessoas tenham seus direitos respeitados, com a garantia de condições dignas de vida. Lutamos e exigimos uma política efetiva, estruturante e massiva de Reforma Agrária Popular, indispensável para a permanência das famílias no campo, com produção e distribuição de riquezas. 

Exigimos a atualização imediata dos índices de produtividade prevista na legislação brasileira, possibilitando o acesso à terra a milhares de famílias. Precisamos da elaboração e execução de um novo Plano Nacional de Reforma Agrária - PNRA, com metas de assentamento de famíliase estabelecimento de prioridades por regiões. É necessário a arrecadação das terras griladas da União e a desapropriação de latifúndios em todos os estados. Além disso, as terras devolutas invadidas por fazendeiros e principalmente, pelo capital bancário e pelas empresas transnacionais do agronegócio, devem ser desapropriadas para fins de Reforma Agrária. O mesmo deve acontecer com as fazendas endividadas com os bancos públicos e órgãos do governo, com as áreas onde houver identificação com exploração de trabalho escravo e as que não cumprem a função social.
 
Cobramos o assentamento imediato das mais de 120 mil famílias que estão vivendo em condições precárias em centenas de acampamentos por todo o país. É necessário destinar para a Reforma Agrária as terras dos projetos de irrigação e as do entorno dos canais de transposição das águas. Para isso, faz-se necessário o fortalecimento, reorganização e qualificação do INCRA, como órgão responsável pela Reforma Agrária e que garanta as condições de implementá-la. 

Nos somamos às lutas e às reivindicações, junto às demais forças sociais do campo, para a imediata demarcação e legalização de todas as áreas indígenas e quilombolas e as de posse de ribeirinhos, pescadores e comunidades tradicionais, como estabelece a Constituição Federal de 1988.
 
A não realização da Reforma Agrária agrava os conflitos sociais no campo. Clamamos por justiça e pela punição aos mandantes e assassinos dos trabalhadores e trabalhadoras no campo. 

A agricultura brasileira deve priorizar a produção de alimentos saudáveis, como um direito humano e como princípio da Soberania Alimentar. Alimento não pode ser mercadoria, fonte de exploração, lucro e especulação. Para isso, exigimos políticas públicas que garantam condições para a produção agroecológica, sem agrotóxicos, com qualidade, diversidade e preço barato para toda a população brasileira. Os governos, federal e estaduais, precisam incentivar e garantir a produção, seleção e armazenamento de sementes pelos próprios camponeses, combatendo assim as sementes transgênicas e a dependência política e econômica das empresas transnacionais que monopolizam sua produção e comercialização. Somos contra as leis de patentes e a privatização de nossas sementes.
É indispensável, para o desenvolvimento social e econômico do campo, retomar, ampliar e garantir os instrumentos de compra de todos os alimentos produzidos pela agricultura camponesa, para atender escolas, sistema de saúde, de segurança e universidades, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e Programa Nacional de Alimentação Escolar PNAE.  

A educação é um direito fundamental de todas as pessoas e deve ser atendido no próprio lugar onde vivem, respeitando o conjunto de suas necessidades humanas, culturais e sociais.Necessitamos que todas as áreas de assentamentos e acampamentos tenham sua própria escola, com condições necessárias para o seu funcionamento. Não aceitamos o fechamento de nenhuma escola do campo e exigimos a implementação de um programa massivo de erradicação do analfabetismo. Lutamos pela defesa, universalização, ampliação de recursos e o acesso efetivo ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária PRONERA, garantindo que jovens e adultos, que vivem no campo, possam avançar na escolarização.
 
O assentamento é nosso território de luta, produção, reprodução e garantia de nossa vida, lugar de defesa e construção de um modelo de agricultura, com a produção de alimentos saudáveis e acesso aos bens sociais e culturais. Para isso, é necessário assegurar condições dignas de vida às populações camponesas e urbanas, produzindo uma nova sociabilidade. 

Exigimos políticas de proteção dos bens naturais, das águas e fontes, assegurando que todas as famílias camponesas tenham acesso à água potável e de qualidade, com saneamento básico. Repudiamos o processo de privatização da água.
Lutamos pela implementação de um programa de moradia popular no campo, que garantao seu acesso de forma rápida e desburocratizada, eliminando o déficit atual de mais de 1 milhão de casas para a população camponesa. 

Reivindicamos a ampliação e execução de um programa de agroindustrias nas áreas de Reforma Agrária, a partir das cooperativas de trabalhadores e trabalhadoras, de forma desburocratizada.  É preciso assegurar o desenvolvimento de tecnologias apropriadas à realidade das comunidades camponesas com o desenvolvimento de programas de máquinas e equipamentos agrícolas. 

É urgente a reorganização e fortalecimento do sistema público de Assistência Técnica e Extensão Rural, voltado e subordinado às necessidades e objetivos dos camponeses e das camponesas. A ele deve somar-se um programa de crédito rural que contribua para a estruturação do conjunto de todas as unidades e sistemas produtivos, estimulando e fortalecendo o cooperativismo, a comercialização e a industrialização da produção. Exigimos a garantia e ampliação dos direitos trabalhistas e previdenciários aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e assalariados rurais.
 
É necessário o compromisso de todos e de todas para a realização de uma ampla reforma política,que democratize as instituições e possibilite ao povo o direito de escolher seus representantes.  E para isso exigimos a convocação de uma Assembleia Constituinte soberana e exclusiva, ainda em 2015.
 
São essas algumas das mudanças urgentes e necessárias, para melhorar as condições de vida e de renda no campo, que todos os governantes eleitos devem implementar. Reafirmamos nossa disposição em lutar, de forma permanente, em defesa e na construção da Reforma Agrária Popular e de uma sociedade socialista. 

Direção Nacional do MST
 
São Paulo,30 Agosto de 2014