terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Contribuição para superarmos o Apagão Ambiental e a insustentabilidade ecológica no Rio Grade do Sul

Ofício/InGá/nº02/2019
Porto Alegre, 19 de fevereiro de 2019

Ilmo. Senhor Artur Lemos
Secretário da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, Presidente do Consema

Prezado Senhor:

O Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, entidade ecologista pertencente à Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do RS (Apedema-RS), vem saudar o novo Secretário e Presidente do Consema, no início desta nova gestão governamental, aproveitando para apresentar nossas preocupações e breves contribuições sobre a situação ambiental e os desafios para o Estado do Rio Grande do Sul e à Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura e ao Consema.
Neste ano, em 29 de junho de 2019, completar-se-ão 20 anos da criação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (SEMA). Cabe destacar que a criação da SEMA representou uma conquista histórica, tanto dos técnicos dos órgãos ambientais do Estado como dos movimentos ambientalistas e de todos os gaúchos. Entretanto, no final de 2018, o governador eleito Eduardo Leite apresentou à Assembleia Legislativa um questionável projeto que atrelou a área de Meio Ambiente à Infraestrutura, desconfigurando a SEMA e seu papel legalmente constituído pela Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal n. 6.938/1981). Os órgãos ambientais compõem um Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e um Sistema Estadual de Proteção Ambiental (SISEPRA), conforme a legislação nacional e estadual, que não inclui o termo “Infraestrutura”. Ademais a palavra infraestrutura não parece ser autoexplicativa, pois, como José Lutzenberger, questionamos o atual modelo de infraestrutura que vem corroendo as bases da sustentabilidade do Planeta.
Consideramos, assim, esta mudança um profundo equívoco tanto na forma como no conteúdo. A AGAPAN, entidade das mais antigas do País, já havia manifestado, em dezembro de 2018, sua crítica[1] ao PL 224/2018, a qual compartilhamos:Parece-nos que os fins últimos dos órgãos de meio ambiente são distintos e muitas vezes opostos aos de infraestrutura. Então, se os objetivos e funções são radicalmente diferentes, qual seria a motivação desta proposta?” [...] a fusão atende mais a interesse econômicos do que de proteção ambiental”. Consideramos que a nova configuração da Secretaria de meio ambiente retira a autonomia dos órgãos ambientais tanto no licenciamento como na fiscalização, agora potencialmente tutelados a um modelo de desenvolvimento cada vez mais em crise. Ademais, causou-nos surpresa o encaminhamento e a aprovação no dia 2 de janeiro de 2019 da Lei n. 15.246/2019, com uma nova configuração desta nova secretaria, no afogadilho, sem nenhum debate com a sociedade.
Quanto ao conflito entre Infraestrutura e Meio Ambiente, é necessário que possamos colocar em discussão uma contradição que não deveria existir, mas que é dominante e natural devido ao modelo econômico imediatista, que prioriza o crescimento econômico ilimitado, a qualquer custo, flexibilizando o controle ambiental. Fato ilustrativo disso é a calamidade socioambiental que ocorreu em Brumadinho (MG), pelo crime de negligência da empresa de mineração Vale, reincidente e que mesmo autuada em dezenas de vezes, nunca pagava as multas ambientais. Do ponto de vista mundial, as entidades ecologistas, baseadas em especialistas e intelectuais do mundo inteiro, vêm alertando para temas como as Mudanças Climáticas, a Sexta Extinção em Massa e a contaminação ambiental de água, ar, ecossistemas e de seres humanos.
Infelizmente, no caso do Brasil e de outros países da semiperiferia do mundo econômico globalizado e competitivo, é priorizada a infraestrutura para exportação de recursos naturais, via commodities, ou mesmo priorização em indústrias que geram produtos com obsolescência programada dentro da lógica de crescimento contínuo de consumo. A partir da priorização do Mercado, vimos enormes pressões econômicas para rebaixar a legislação ambiental, fato que ocorreu com o Código Florestal, e está na pauta a flexibilização via Código Minerário, Lei dos Agrotóxicos e novas leis de Licenciamentos Ambientais.
A infraestrutura decorrente do modelo hegemônico de economia de crescimento infinito em um planeta finito, com o agravante das regras de mercado se sobreporem aos direitos socioambientais garantidos pela Constituição Federal, é legalmente questionável e profundamente contraditória com a proteção ambiental. 
É necessário que se estabeleça uma discussão democrática sobre a economia hegemônica, levada a cabo por grandes setores, atrelados a uma lógica de mercados competitivos globais, que muitas vezes encaram o meio ambiente como um entrave. Testemunhamos inúmeras declarações e ações do governo anterior, por meio da ex-secretária de meio ambiente, Ana Pellini, junto a grandes setores da economia do Estado, concentrando seus esforços na agilização de licenças a despeito do enfraquecimento da gestão ambiental da SEMA, em especial a FZB, a FEPAM e o DEBio.
Ao longo das últimas duas décadas, a economia do Rio Grande do Sul acabou, em grande parte, dependendo das exportações de matérias primas (grãos de soja) ou semimanufaturados (pasta de celulose)[2], com valor agregado baixo ou nulo, sem falar das isenções de impostos (Lei Kandir).
 Monoculturas de soja no Alto Uruguai, do RS
 A obsessão pelo potencial uso de carvão, dentro dos combustíveis fósseis, responsáveis pelas mudanças climáticas e contaminação ambiental[3], representa um enorme risco ao Estado, pois corresponde a uma matriz altamente poluente que está sendo abandonada em muitos países, mas incrementada aqui. Correm maior risco o município de Candiota e mais recentemente em Eldorado, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). 


Os projetos de grandes hidrelétricas nas bacias dos rios Uruguai e Taquari-Antas também correspondem a grandes impactos[4], com perdas para sempre de terras de muitos milhares de pessoas e de muitos milhares de hectares de florestas e campos nativos, destacando-se resultado de fraudes, reconhecidas pela justiça, em licenciamentos, como no caso da UHE Barra Grande, na década passada.
 Área alagada pela Hidrelétrica de Barra Grande
A mineração sobre o Pampa, principalmente na bacia do rio Camaquã, é uma grande ameaça. Parte da mineração de areia no rio Jacuí, para construção civil, também é um problema recorrente. No setor industrial, é preocupante o fator sinérgico da poluição aérea e hídrica na Região Metropolitana de Porto Alegre, por meio do Polo Petroquímico, da Refinaria Alberto Pasqualini, da empresa Celulose Rio-grandense, da enorme frota de veículos automotores da região que concentra pelo menos 1/3 da população do Estado. O setor automobilístico e a fumicultura também são setores fortes e questionáveis na ênfase da produção econômica do Estado, mas com itens de sustentabilidade nem sempre presentes. Nestes patamares convencionais de Infraestrutura dos negócios de sempre, com maior peso em relação ao meio ambiente, segue sendo um tema praticamente tabu dentro da lógica econômica dominante e deveria ser objeto de discussão tanto no Consema como em outros fóruns da sociedade.
No momento, levantaremos alguns dos itens que consideramos mais graves no que toca ao quadro ambiental negativo e negligenciado por vários governos, principalmente o governo do Estado antecessor, onde houve retrocessos tremendos, vias leis, decretos e portarias com profunda fragilização do setor técnico da área ambiental (tentativa de extinção da FZB, enfraquecimento da gestão ambiental da Fepam e DEBio). Tal fragilização no licenciamento não é exclusividade do Estado, sendo um fenômeno nacional e internacional que pode aumentar os riscos de danos ou desastres socioambientais de grande monta como aqueles que ocorreram pela negligência nos licenciamentos.
Infelizmente, a guerra fiscal entre os Estados e a redução de recursos para os órgãos ambientais são elementos que conspiram contra a gestão ambiental qualificada.
A seguir, assinalamos alguns dos problemas ambientais prioritários a serem enfrentados no Rio Grande do Sul:
1)       O Estado possui os dois biomas, Mata Atlântica e Pampa, com menor superfície de remanescentes no Brasil (7,9% e 36%), conforme dados oficiais do MMA[5]. O Rio Grande do Sul, também, é o que apresenta menor quantidade e extensão de Unidades de Conservação (2,6%)[6] entre os três estados Estado da Região Sul, lembrando que as Metas da Biodiversidade 2020 (Metas de Aichi)[7], assinadas pelo Brasil com mais de 190 países da Convenção da Diversidade Biológica, preveem 17% de cada território com áreas protegidas; 
2)      No que se refere às espécies ameaçadas, possuímos 280 espécies ameaçadas da fauna (Decreto Estadual 51.797/2014) e 804 espécies ameaçadas da flora do RS (Decreto Estadual 52.109/2014), tendo os números crescido desde a década passada;
3)      No que se refere à qualidade ambiental hídrica, possuímos três rios entre os 10 mais poluídos do Brasil (rio Gravataí, rio dos Sinos e rio Caí)[8], o que contribui em muito para a perda de qualidade de abastecimento de água na RMPA, além do aumento dos fenômenos de florescimento de cianobactérias no rio-lago Guaíba. Os barramentos de rios para geração de energia e para irrigação correspondem à morte de matas ciliares e sua biota associada, morte de peixes e eutrofização que compromete inclusive a qualidade da água;
4)      No que toca à qualidade do ar, temos o sistema de monitoramento da qualidade o ar praticamente totalmente sucateado na RMPA[9]. Consideramos inadequada a ênfase ao processo de autolicenciamento e automonitoramento por parte de empresas, o que diminui o controle do Estado e a alimentação de dados isentos e confiáveis para a gestão ambiental, isso vale para todos os âmbitos de poluição;
5)      No campo, conversão acelerada de vegetação dos Campos Sulinos em lavouras, com um aumento exagerado e sem limites do modelo baseado nas monoculturas de soja transgênica e de outros grãos para exportação, muitas vezes com uso indiscriminado de agrotóxicos e outros insumos, com uso acentuado de recursos hídricos, vindo a comprometer a saúde dos agricultores e da sociedade, dos alimentos, das abelhas, dos rios e da saúde dos ecossistemas, estrangulando a diversidade econômica, o que também é um problema ecológico. A morte em massa de colmeias de abelhas e outros polinizadores é um enorme problema para a apicultura resultante disso, já que perdemos a produção de mel e da polinização de mais de 50% das culturas que dependem destes insetos; 
6)      Crescimento desordenado de urbanização na Região Metropolitana do Rio Grande do Sul e do Litoral Norte, sem controle e planejamentos necessários, comprometendo a qualidade ambiental. A extinção da Metroplan é um processo de desregulamentação deliberado que permite a expansão sem regras e que acarreta múltiplos problemas;
7)      Crescimento das espécies exóticas invasoras, segundo fator de perda de biodiversidade, necessita de maior esforço da SEMA no enfrentamento deste tema de forma efetiva;
8)      Apagão ambiental, pela fragilização do corpo técnico dos órgãos e setores de meio ambiente estaduais (Fepam, FZB, DBio) e nacionais (IBAMA, ICMBio), com desestruturação do SISEPRA (Sistema Estadual de Proteção Ambiental), sem controle e sem fortalecimento necessário do licenciamento e gestão ambiental, inclusive das regionais da Fepam e DEBio, e repasse indiscriminado de responsabilidades às prefeituras. A contratação, sem concurso, de técnicos da área dos órgãos ambientais deixa todo sistema de licenciamento sob a ênfase dos interesses e pressões políticas e econômicas;
9)      Unidades de Conservação sofrendo grave descaso de parte do governo, com desfalque de técnicos gestores, sem equipe de apoio, com escassez de guarda-parques, falta de equipamentos, sem recursos e com graves conflitos em suas áreas de amortecimento, e sem planos que possam viabilizar o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC).
Como sugestões, trazemos aqui alguns itens como:


1)       Revisão da Lei 15.246/2019, que incorporou a Infraestrutura a SEMA e revisão de todos os atos que resultaram em licenças ambientais questionadas na justiça, na gestão do governo antecessor;
2)      Fortalecimento dos órgãos ambientais, resgatando as atividades essenciais realizadas pela Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, FEPAM e Departamento de Biodiversidade (DEBio), valorizando os técnicos e demais funcionários destes órgãos em programas de gestão ambiental onde se possa manter e fortalecer as informações da capacidade de suporte de atividades por bacia e/ou unidade de paisagem, integrando pesquisa, fiscalização, licenciamento, monitoramento, a fim de se superar o Apagão Ambiental atual. Manter um contingente de técnicos necessários para as diversas atividades de gestão ambiental, por meio de concursos e salários dignos;
3)      Avançar no resgate de pioneirismos na gestão ambiental, tomando em conta de que a FEPAM e a FZB tornaram o Estado do Rio Grande do Sul como o primeiro Estado do Brasil a realizar o Zoneamento Ambiental da Silvicultura (ZAS) e as Avaliações Ambientais Integradas (AAI) dos rios Taquari-Antas (2001), retomando-se com discussão séria e transparente em relação ao Zoneamento Ecológico-Econômico, com inclusão das universidades e instituições de pesquisa e setores da sobiobiodiversidade, que contemple a Zonas da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e as Áreas Prioritárias para a Biodiversidade (Portaria MMA n. 9, de 23 de janeiro de 2007);
4)     Interação da SEMA com as áreas que visam o desenvolvimento da agroecologia e produção orgânica, já que o RS é um dos poucos do Brasil que desenvolveu estas atividades sustentáveis. Haverá Infraestrutura para seu desenvolvimento? Temos no Estado a maior produção de arroz orgânico da América do Sul, justamente em um assentamento. Apesar da lamentável extinção da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), o Plano Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica – PLEAPO teve articulação de entidades e avanços importantes. Porém o PLEAPO depende de ações da FZB, principalmente do Jardim Botânico e de seu viveiro para produção de mudas como de erva-mate, araucária, juçara, butiá, entre outras. Incentivo às agroflorestas na Região da Mata Atlântica; proteção e valorização do Pampa e da Mata Atlântica.
Agroflorestas no Litoral Norte do RS
5)      Valorização dos Biomas do Estado. No Pampa, retomando uma segunda edição do Projeto RS Biodiversidade, com incremento à pecuária sobre campos nativos altamente produtivos, incentivo ao turismo rural e ecológico, e desincentivo econômico à conversão dos campos nativos em lavouras. Criação de UCs de uso sustentável no Pampa, eivando esforços em prol da PEC n. 05/2009 que prevê a incorporação do Pampa, da Caatinga e Mata Atlântica como Patrimônios Nacionais na Constituição Federal. Na Mata Atlântica, fortalecer o Comitê da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, incrementando ações demandadas e propostas pelo Comitê;
                                     Guaritas - Caçapava do Sul


6)      Incentivo às fontes de energia renovável e alternativa, com respeito às energias de fontes eólica, solar e biomassa e o resgate de uma matriz industrial de bens de longa duração e sustentáveis, como painéis solares, equipamentos de geração eólica, produção de veículos mais sustentáveis, como bicicletas e veículos coletivos menos poluentes, com base em energia elétrica ou gás, entre outros;
7)      Debater o desenvolvimento do Estado e a sustentabilidade ambiental, com base nas demandas locais, de forma ampla com a participação da sociedade, retomando as Conferências Estaduais de Meio Ambiente, que não ocorrem há mais de uma década;
8)      Agilizar o Cadastro Ambiental Rural, coordenado pela SEMA, como instrumento importante para reverter a perda da biodiversidade, incrementando-se Reservas Legais em malhas de corredores ecológicos ;

9)      Retomar a Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar na Região Metropolitana de Porto Alegre e outras regiões industriais do Estado, integrando monitoramentos de ar, água e biodiversidade em sistemas de informação geográfica e bancos de dados unificados em todo o Estado.



Era o que tínhamos para o momento,
Atenciosamente
Paulo Brack, Coordenador do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais - Ingá




domingo, 4 de novembro de 2018

Inácio Pereira Lima: "Avaliação da contaminação do leite materno pelo agrotóxico glifosato em puérperas (que acabaram de dar a luz) atendidas em maternidades públicas do Piauí"

2017, 66p. Dissertação deMestrado Profissional. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Mulher – CCS/UFPI.RESUMO  "O glifosato [o maior herbicida usado no Brasil, representando mais de 50% do volume de todos os agrotóxicos comercializados aqui] é o agrotóxico de maior risco potencial para a saúde humana por ser o mais comercializado no mundo, no Brasil e no Piauí.


Baseando-se nessa realidade, este estudo teve como objetivo avaliar a contaminação de leite materno pelo agrotóxico glifosato em puérperas (que recém deram a luz) atendidas em maternidades públicas do Piauí. Adotou-se um desenho de estudo correlacional descritivo e de corte transversal aplicado nos municípios de Teresina com 164 participantes, Oeiras com 27 e Uruçuí com 13 participantes. Foi desenvolvido um método de análise laboratorial das amostras de leite materno aplicado à técnica de cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a fotodiodo de detecção por radiação ultravioleta [...]. A análise das amostras de leite materno limitou-se à detecção das duas substâncias. Analisou-se 62,5% das amostras coletadas em Oeiras e Uruçuí, detectando-se presença de glifosato ou ácido aminometilfosfônico em 64% delas. Ao desagregar por município, comprovou-se contaminação em 46,1% e 83,4% das amostras analisadas provenientes de Oeiras e Uruçuí, respectivamente. Conclui-se que foi alta a contaminação do leite materno pelo agrotóxico glifosato, comprovando-se sua gravidade e importância enquanto fator de risco à saúde da mulher e da criança."

sábado, 29 de setembro de 2018

Jardim Botânico de Porto Alegre completa 60 anos, sob iminente ameaça


    Considerando o aniversário de 60 anos do Jardim Botânico de Porto Alegre, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, se completaram em 10 de setembro, porém a instituição tem destino incerto e sofre grande risco iminente;

Considerando que o Plano Diretor do JBPA (2004) já estabelecia como um dos principais objetivos “dar prioridade à conservação de espécies raras, endêmicas, vulneráveis ou em perigo de extinção” e “manter acessos diversos de cada espécie, buscando conservar os recursos genéticos”;
Considerando a Resolução do Conama 339/2003 que estabelece condição para a manutenção atual da categoria A, obtida pelo Jardim Botânico de Porto Alegre, entre outros quesitos, da existência de corpo técnico especializado, da efetiva execução de atividades de pesquisa em botânica, de programas de educação ambiental, da manutenção de coleções vivas, da manutenção de bancos de germoplasma, do oferecimento de cursos ao público externo e da manutenção de programa de publicação técnico-científica, o que, até então, vem sendo realizado com inúmeras dificuldades pelos profissionais especializados do JB e, complementarmente, do Museu de Ciências Naturais – MCN, fundamental ao JBPA;
Considerando a decisão da Justiça, emitida em 31 de dezembro de 2017, e reafirmada em despacho (Processo 1.17.0015169-0 ) de 03/04/2018, proferido pelo Juiz Eugênio Couto Terra, que obriga a manter a Categoria A ao Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica, seguindo a Resolução do Conama 339 de 25 de setembro de 2003;
Considerando que o quadro técnico-científico, necessário para contemplar a referida Resolução e as decisões judiciais, está sendo diminuído drasticamente, pois, até esta data, não existe cargo de Direção no Jardim Botânico, tendo sido demitidos 3 pesquisadores, 6 jardineiros e uma secretária, com a transferência de um técnico florestal para outro setor. E também, cabe destacar, todos os funcionários já receberam notificações de demissão ou transferência e as atividades estão em processo de cessamento;
Considerando que, além da falta de direção técnica e administrativa, todos os chefes de divisão e seção foram exonerados, sem substituição das chefias e com a desocupação das salas da administração, agregando-se a isso o comprometimento do viveiro da instituição, o mais rico em espécies nativas raras e ameaçadas do Estado, o qual não possui mais responsável técnico, sendo proibidas as excursões necessárias para coleta de sementes de espécies nativas e inviabilizadas permutas de mudas entre essas instituições;
Considerando o deslocamento ou demissão de servidores que desempenham funções essenciais ao manejo de plantas e sementes do JB e a demissão de técnicos que atuam na pesquisa, curadoria, planejamento de atividades, editoração e apoio especializado às atividades na área de botânica compromete a qualidade e continuidade dessas atividades, colocando em risco a manutenção da categoria A e a própria condição de Jardim Botânico, conforme a Resolução 339/03 do Conama;
Considerando que não há mais administração do Jardim Botânico, a secretária foi demitida, o chefe da Divisão de Pesquisa foi exonerado da chefia em fevereiro e demitido em março, quando a sede da administração foi esvaziada. Todas as divisões, seções e setores não têm mais chefias. Além de não existir mais Direção no Jardim Botânico de Porto Alegre, pois o último diretor foi exonerado em maio, sem substituição, não há ninguém para coordenar os trabalhos ou pessoal especializado em se responsabilizar por materiais e equipamentos;
Considerando que é iminente a perda de 10 coleções envasadas com 2094 exemplares de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção do estado do Rio Grande do Sul, constituindo-se em perda irreparável ao bem público representado pelo patrimônio florístico único mantido em conservação “ex situ”;
Considerando que a iminente extinção da FZB e do respectivo CNPJ, com as demissões de funcionários, gera a perda de qualidade da pesquisa científica e encerramento definitivo de algumas delas, garantidas por Lei (Constituição Federal, Constituição Estadual, Código de Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul, Decisões Judiciais) e por acordos internacionais (Metas da Biodiversidade 2020, assinadas em acordo entre o Brasil e mais de 190 países da Convenção da Diversidade Biológica);
Considerando que as coleções estão sob risco iminente pela negligência governamental e procrastinação no atendimento às decisões judiciais e necessidades e demandas essenciais à manutenção das estruturas para coleções especiais, como cactáceas, bromeliáceas e orquidáceas, que exigem constante manutenção. Muitos exemplares de coleção já estão morrendo, tanto pelo descaso com a infraestrutura quanto pela ausência do técnico florestal especializado. Cabe destacar, também, ser inverossímil qualquer plano de ação teórico que viesse a substituir as funções da FZB, previsto em Decreto, complementar à inconstitucional Lei 14.982/2017, para um departamento hierarquicamente rebaixado e sem estrutura de pessoal e condições físicas na SEMA.
Considerando que a Resolução 339/2003 é bem clara em exigir a manutenção de Publicações Científicas (Revista Iheringia, sér. Botânica), agora sob ameaça de solução de continuidade, pela demissão de pesquisadores responsáveis pela mesma, bem como estar comprometido a continuidade do cumprimento do registro de banco de germoplasma e publicação regular do Index Seminum, pois, no setor do Banco de Sementes, dois técnicos com quase vinte anos de experiência em análise de sementes foram demitidos, restando apenas dois técnicos que, sozinhos, não conseguirão manter o funcionamento do banco de sementes, e muito menos publicar o Index Seminum.

Assim, neste Data tão importante, vimos denunciar a irresponsabilidade do governo do Estado e parabenizar os técnicos e demais funcionários do Jardim Botânico de Porto Alegre que lutam heroicamente para evitar o grave risco de interrupção irreparável das atividades essenciais e insubstituíveis deste patrimônio do Estado, em especial da flora do Rio Grande do Sul, que justificam a classificação do Jardim Botânico de Porto Alegre na categoria A, exigida pela Justiça, e a essencial parceria com o Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, sem a qual este patrimônio não se sustentará.
Porto Alegre, 10 de setembro de 2018

Ingá- Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais
APEDEMA - Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do RS
MOGDEMA - Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente

domingo, 23 de setembro de 2018

AS ELEIÇÕES VÃO ENCARAR O AGRO-NECRONEGÓCIO E O MINERO-NECRONEGÓCIO, NO CONE SUL EXPORTADOR DE COMMODITIES?

O Cone Sul, constituído pelo Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, o que não é diferente dos demais países da periferia ou semiperiferia do sistema mundo, possui economias voltadas para a exportação de commodities. Commodity corresponde a uma mercadoria comercializada em bolsas de valores internacionais, em geral, matérias primas (soja, café, petróleo, ferro, alumínio e outros minerais, entre outros produtos). Exportam-se produtos sem agregação de valor, mas com valores monetários fora dos países de origem, muitas vezes em países industrializados e chamados desenvolvidos.(sugere-se ver trabalho do uruguaio Eduardo Gudynas, sobre o que ele chama de Novo Extrativismo).

No Cone Sul, o Império da Soja não para de crescer. Em compensação, em nosso país, importamos ou temos as áreas agrícolas reduzidas para a produção de feijão, arroz e trigo, enquanto as monoculturas de soja, com seus 35 milhões de hectares, alcançam dez vezes mais do que estas culturas alimentares. Em dez anos, desde 2007, a soja vem aumentando, quase sem parar, em mais de 70% sua área de plantio.

Com as monoculturas exportadoras, em especial os grãos ou farelo de soja ou a pasta de celulose de monoculturas de eucalipto, vimos nossos biomas com biodiversidade (em especial Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa) sucumbirem em paisagens de extrema uniformidade, o que a ativista ecológica e indiana Vandana Shiva atribui às Monoculturas da Mente. Na década passada, houve aumento de mais de 190% no uso de agrotóxicos no Brasil, sendo este aumento equivalente ao dobro do crescimento que ocorreu no mundo. Como resultado, nos tornamos o país que mais consome agrotóxicos, com o uso anual de mais de um bilhão de litros destes produtos na agricultura industrial, o que compromete a saúde humana, animal e ambiental, sem falar na perda de nossa sociobiodiversidade. 

A hipertrofia do modelo sojeiro corresponde a um projeto econômico de ganância de parte de grandes transnacionais. Empresas que mandam nas áreas da agricultura, na pesquisa agropecuária, na economia e na política, utilizando-se em grande parte da venda casada de sementes e biocidas associados. A venda casada teoricamente é proibida em muitas economias, inclusive no Brasil. Trata-se de um processo de consumo crescente de insumos químicos e dependência dos agricultores presos ao modelo de exportação, o qual não necessariamente visa a produção de alimentos para os humanos. Produzem-se grãos que serão usados para alimentar animais em escala industrial, inclusive retirando-se gado solto no Pampa para produção destes grãos que alimentarão animais confinados em outros continentes, o que implica também em exportação de água, com a destruição de nossas diversas paisagens e modos de vida diversos.

Os gigantescos monopólios de sementes associados a monoculturas, que vendem no Brasil 45 bilhões de reais em biocidas (agrotóxicos), querem ter uma boa imagem, Daí, as propagandas de que o tal “Agro é Pop”. Entretanto, o setor não vai investir em tecnologias que reduzam o uso destes produtos, pois não aceitam redução de suas margens de lucro. Cabe destacar que os agrotóxicos são provenientes de armas químicas utilizadas na Segunda Guerra Mundial. É fantasia acreditar-se que as mesmas empresas que produziram o agente laranja (herbicida derivado do 2, 4 D), utilizado no desmatamento e morte de vietnamitas, na Guerra do Vietnã, na década de 1960, abandonem sua forma imediatista de lucrar e estanquem o atual círculo vicioso do mercado e dependência de insumos agrícolas. Em essência, não se importam com as pessoas, ao contrário, impõem esquemas de incentivo às monoculturas combatendo a sociobiodiversidade. 

Temos, em um país megabiodiverso como o Brasil e demais países do Cone Sul, múltiplas alternativas na agroecologia, longe de monopólios de sementes e seu modo totalitário e homogeneizador de paisagens. Infelizmente o agronegócio, chamado “locomotiva da economia”, está se convertendo em “Titanic”, mas poucos políticos enxergam isso.

A exportação de commodities, em larguíssima escala, inclui também o megaextrativismo via megamineração espoliadora e destruidora, como ocorreu na quase morte do rio Doce, em Mariana (MG), quando do rompimento da barragem da empresa Samarco (que pertence à Vale e à BHP). Trocamos quase duas dezenas de vidas e um rio com quase mil quilômetros de extensão para a exportação de milhões de toneladas de minério de ferro, quase bruto, com isenções, situação que também ocorre com o alumínio que vai parar na Ásia, junto com a soja. Para isso, governos, parlamentares e grande mídia propagandeiam a infraestrutura pesada que aprofunda a megaespoliação sobre o Cone Sul e outras zonas de periferia e semiperiferia mundial. E muitas vezes obtêm financiamentos do Banco Mundial e/ou do Banco Interamericano de Desenvolvimento.


Para dar continuidade a seu poder, as grandes empresas do agronecronegócio (lembrando que necro significa morte) e da megamineração realizam doações bilionárias nas eleições, agora não mais por CNPJ (empresas), mas por CPF (pessoas físicas, utilizadas como “laranjas” doadoras desde empresas). Assim, tentam assegurar este esquema insustentável, por meio das bancadas dos agrotóxicos e do agrobusiness, o que chamamos de necroagronegócio, ou pela mineração pesada e espoliadora, o que também podemos chamar de mineronecronegócio.

Nesta condição, se agregarmos a questão da água, via privatização de seu uso ou imposição de megaobras de barragens de produção energética ou irrigação das monoculturas, poderemos falar em um processo anabolizante que nutre as bancadas desse poderoso agro-hidro-mineronegócio, que nos submetem à condição de reassumirmos um papel de colônias exportadoras, com isenções de impostos às grandes empresas de agrotóxicos e dos ramos de exportação de soja, celulose, minério de ferro, alumínio e petróleo.

O modelo também é Megaextrativista, não meramente extrativista, pois a escala de espoliação de matéria prima é gigantesca. O extrativismo, em si, nem sempre é negativo, se for utilizado em pequena escala local. Exemplos importantíssimos são a erva-mate (somando-se seus cultivos e extrativismo puro, o quer gera dois bilhões de reais ao País), as fibras que os povos originários utilizam para o seu sustento e venda de artesanatos, a madeira e lenha (para mercados locais e de forma sustentável), as frutas nativas, a polpa de frutas de palmeiras, como o açaí (defendido pelo cientista Carlos Nobre) e outras formas sociobiodiversas de extrativismo e produção, em escala compatível e em modelos diversos e sustentáveis.

As formas e os modelos da grande escala do sistema mundo, impostos aos países do Cone Sul, subjugam nossas economias a uma reprimarização galopante. Demandam-se pesadas infraestruturas, associadas a empreiteiras doadoras de campanhas, o que gera espoliação de matérias primas em nossos países exportadores. E as indústrias de manufaturados, fundamentais à nossa vida, são jogadas para outra parte do mundo, em grande proporção sobre outros povos também espoliados em sua dignidade de trabalho quase escravo. Chegamos ao cúmulo de importar produtos como panos de prato e chapéus de palha da China, a distâncias de mais de 10 mil quilômetros para prover bens que produzíamos aqui. Sem falar em nossas roupas que provêm da China, Índia e Bangladesh.

O Banco Mundial (BIRD), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) estão entre os principais articuladores desta expropriação degradadora e concentradora de capital, mas que conta com parlamentares em portas giratórias entre o público e o privado.

O “Pré-sal” está mais acima da superfície, mas não enxergamos. Cabe aos setores da população potencialmente mais sensíveis à questão da perda de nossa Ecossoberania e aos governos eventualmente mais populares fazerem o contraponto ao Usual Mundo Impossível, para o Outro Mundo Possível e Necessário. Também cabe estarmos com os olhos bem atentos para este aprofundamento de um esquema lesivo a nossas soberanias e economias, buscando nossas vocações locais, nossa autonomia e autoafirmação com base em modos de vida mais sustentáveis, aliados da sociobiodiversidade latinoamericana.

O chamado Mercosul já nasceu com rótulo questionável. Tem seu prefixo “merco”, de mercado. Será esta nossa identidade, ademais imersos em mercados exportadores de matérias-primas? O Mercosul não se livrou de uma visão economicista dominante que ainda segue os modelos insustentáveis. No imaginário, inclusive de alguns setores da esquerda, a economia hegemônica acaba servindo como modelo de identidade e não às formas de vida latinoamericanas e de nossas lutas comuns de contracultura, onde estão em primeiro lugar as bandeiras de liberdade e soberania, as quais lembramos nas diferentes edições do Fórum Social Mundial, da década passada.

Há de se reconhecer que as matérias primas ou manufaturados que são exportados podem representar fatias importantes do PIB (Produto Interno Bruto). Porém, estamos queimando o forro de nossa casa para jogar lenha na lareira para aquecer uma falsa economia, o que o filósofo Aristóteles chamava de crematística, que lida com valores meramente monetários, superficiais. Isso já está acabando com a resiliência (capacidade de regulação) de nossos sistemas vivos (ecossistemas). Vivemos um modelo de esgotamento que compromete cada vez mais, inclusive, o recurso água, fundamental à vida. Lesivo à dignidade humana e à qualidade de vida das gerações atuais, futuras e ao restante da biodiversidade, esta sofrendo o processo chamado de Sexta Extinção em Massa. O Crescimento econômico, nesta lógica dominante, é uma bandeira, do BIRD, do BID e da OCDE, que está a nos levar ao abismo.

O capital, cada vez mais obsessivo pela forma mórbida de crescer, arrasta nossos governos e desgovernos para esse abismo, sem volta. Nossa biodiversidade do Cone Sul - e vamos nos limitar ao Pampa - está sendo muito bem aproveitada lá fora, gerando bilhões de dólares para empresas estrangeiras, pela biopirataria de nossos bens nacionais compartilhados, como no caso de: feijoa (goiabeira-serrana), levada para Nova Zelândia e Colômbia; dos butiás (jelly palm), levados para Inglaterra, Espanha e EUA; do nosso araçá, que foi plantado comercialmente com êxito na Austrália, levado há mais de 100 anos; as plantas ornamentais, como petúnias, verbenas, cactos e outras roubadas por empresas japonesas, norte-americanas e europeias, e comercializadas no mundo inteiro; dos venenos de serpentes, como a jararaca, levados por transnacionais norteamericanas para produção de medicamentos (Captopril); plantas medicinais, como a cancorosa, com substâncias patenteadas por empresas japonesas; forrageiras nativas do Pampa, utilizadas na África do Sul, Nova Zelândia e EUA, entre centenas de espécies roubadas do Cone Sul. Em contrapartida, em nossos territórios nos impõem a condição de servos exportadores de commodities derivadas de monoculturas biocidas e do MEGAEXTRATIVISMO.

O problema é que o sistema mundo, capitalista, espolia, prioritariamente, tanto as nações da periferia como da semiperiferia e de suas sociedades. E, se necessário, cria o caos socioeconômico e político, junto com o sistema financeiro, o que David Harvey chama de “Destruição Criativa”. Acabam-se com processos genuínos, criam-se golpes (agora parlamentares) nas débeis democracias (Paraguai, Honduras, Brasil), deixando os países sem muitas alternativas, gerando violência e medo, longe da soberania, civilidade, cidadania, dignidade, sociobiodiversidade.... A barbárie criada e o niilismo são caldos de cultura para o medo e a violência, que resulta em líderes e candidatos fascistas, ou com caminhos privatistas, de retrocessos na legislação ambiental (licenciamentos ambientais flexibilizados, pacote de Venenos, via Lei 6299/2002, entre outras) e social (contrareformas da previdência e trabalhista). Poderemos ter estes temas em nossa agenda para enfrentarmos os candidatos entreguistas e neofascistas?

Estamos no Brasil e no mundo vivendo a essência pura de um sistema capitalista de competição extrema e barbárie.

Surpreendentemente, a palavra competitividade segue na pauta dos políticos de diferentes matizes. O economista marxista Vito Letizia, falecido em 2012, e que cursou Biologia na UFRGS, preso pela ditadura militar em 1970, havia alertado para a finitude deste modelo adotado em parte pelo Brasil. Letizia afirmava: “A Destruição da Amazônia financia o crescimento brasileiro”. Aquilo que nosso imaginário pensava ser possível vivermos em um estado de bem estar social, com certo nacionalismo induzido pelo Estado ou megaobras e megainfraestrutura, sem enfrentarmos essa elite e esse sistema injusto e criminoso, parece ter demonstrado que está bem longe da realidade.

Tampouco é automaticamente garantido êxitos significativos na mudança de rumo caso a esquerda ou centro-esquerda ganhe as eleições de 2018 no Brasil. Se não houver pressão social e mudarmos o paradigma profundo desta economia de concentração, consumo exacerbado e descaso com a finitude dos recursos naturais, deixando livres o sistema financeiro e as elites econômicas que fazem girar o círculo vicioso do sistema atual, não teremos saída.

Para enfrentarmos esta pauta negligenciada, é necessária muita luta para inclusão destes temas nas eleições e possamos apoiar e eleger candidatos(as) que tenham coragem de revogar a EC (Emenda Constitucional) n. 95/ 2016, que congela recursos para a Educação e Saúde. Oxalá, consigam vencer os candidatos progressistas sobre a ala de neofascistas, muitos deles denunciados pelo sitio-e De Olho Nos Ruralistas. E que o neoliberalismo seja barrado, em um movimento de baixo para cima, além das eleições, na busca pela identidade latinoamericana e autoafirmação, na construção de sociedades solidárias, fraternas e ecologicamente sustentáveis, fortalecendo-se a ecossoberania. Há tempo de se buscar programas e candidatos deste campo, urgentemente! Uma pauta ambientalista se encontra no documento Transição Ecológica Necessária.