terça-feira, 6 de agosto de 2024

TRAJETÓRIA DO PROFESSOR E ECOLOGISTA PAULO BRACK

Iniciando no Ecologismo

Paulo Brack começou sua trajetória ecologista aos 18 anos, quando ingressou em 1978 na Agapan, tendo influência de José Lutzenberger, Flávio Lewgoy, Hilda Zimmermann, Alfredo G. Ferreira, Caio Lustosa, entre outros tantos. Na mesma época também ingressou como estudante no Curso de Biologia da UFRGS, junto com o colega e ambientalista Francisco Milanez e também influenciado por colegas estudantes no Diretório Acadêmico do Instituto de Biociências (DAIB). Era uma época rica em lutas ambientais, contra o corte de árvores, pela defesa da Amazônia, pela defesa do Parque Estadual de Itapuã, pela defesa do Guaíba e da Lagoa dos Patos contra a poluição do Polo Petroquímico de Triunfo, contra as hidrelétricas do rio Uruguai, contra as Usinas Nucleares de Angra dos Reis e os agrotóxicos, numa geração influenciada pelo livro Primavera Silenciosa, da bióloga Rachel Carson.


Atividades na Universidade, em Ensino, Pesquisa e Extensão/Interação

Tornou-se Biólogo (1983), com mestrado em Botânica pela UFRGS (1988), orientado pelo saudoso e querido professor Bruno Irgang, e doutorado em Ecologia e Recursos Naturais pela UFSCar (2002), pesquisando a estrutura do componente arbóreos de remanescentes florestais em Maquiné e Riozinho. É Professor Titular do Departamento de Botânica da UFRGS, tendo ingressado em 1994, trabalhando em projetos de pesquisa e extensão (interação) sobre conservação, uso sustentável da flora do RS. Anteriormente, foi professor da UNIJUÍ, da PUCRS e da UNESC. Teve várias publicações e atividades de pesquisa listadas em seu Currículo Lattes.

Na UFRGS, além de professor, foi coordenador ou membro de mais de meia centena de projetos de extensão/interação, a maioria por iniciativas dos estudantes da Biologia, em especial do Grupo Viveiros Comunitários (GVC), desde a década de 1990. Em 1998, como pesquisador, publicou, junto com colegas botânicos, uma inédita lista das espécies de árvores nativas de Porto Alegre, com o total de 181 espécies, trabalho referencial que vem contribuindo para sua conservação e o uso na arborização urbana. Junto com os estudantes da Biologia, auxiliou a elaboração de materiais sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais, PANC, para divulgação (Cartilha), oficinas e caminhadas de reconhecimento, em especial plantas nativas e espontâneas no RS. Coordenou a publicação, junto com Matias Köhler, Claudine Abreu Correa, Marcos Sobral e Valdely Kinupp,  da lista de Frutíferas Nativas do Rio Grande do Sul, Brasil: riqueza e potencial alimentício 


Em convênios entre a UFRGS e a SMAM, colaborou na elaboração do Plano de Manejo do Parque Natural Municipal Morro do Osso, além de ser um dos autores do Guia da Flora e Fauna do Parque Morro do Osso, coordenado pela bióloga Maria Carmen Sestren Bastos.

Entre 1993 e 1994, tinha atuado como pesquisador no Herbário do Museu de Ciências Naturais e no setor de Botânica da então Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.

Durante muitos anos, realizou pesquisas com a flora do Parque Estadual do Turvo, sendo um dos autores de publicações sobre sua riqueza, desenvolvendo também aulas de campo neste mais amplo parque estadual de proteção intergal dio RS, na fronteira com Argentina.


Trabalhando na Administração Popular

Entre 1989 e 2003, durante a Administração Popular, trabalhou na Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAM), na Coordenação do Ambiente Natural (extinta nos governos neoliberais) e como gestor da Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger. No local, foi idealizador da Casa Verde (espaço de educação ambiental e minimuseu desta UC) e coordenador do primeiro Guia de Campo das Espécies da Reserva Biológica do Lami (1992). Foi da equipe da Supervisão do Meio Ambiente, comandada por Sebastião Pinheiro e, posteriormente, Volney Zanardi, tendo lutado pela Area de Proteção Ambiental (APA) dos Morros de Porto Alegre. Foi também colega de Cláudio Langone (primeiro secretário da SEMA, no RS) e de Nilvo Silva (posteriormente diretor da FEPAM). 

Outras atuações profissionais 

Foi consultor na área ambiental, nas décadas de 1980 e início de 1990, principalmente na construção de estradas e mineração, ganhando experiência de atividades, muitas questionáveis, que buscavam licenças ambientais. Em 1989, denunciou o desmatamento de remanescente de mata brejosa, na construção da Rota do Sol (ERS 486), o que pode ter resultado, como compensação aos danos da retirada de vegetação e outros empreendimenos da região, a implantação da Reserva Biológica da Mata Paludosa, administrada pela SEMA. Atualmente, foi eleito também, como suplente, no Conselho Regional de Biologia do RS (CRBIO-3), para a gestão 2024-2028.

Políticas Públicas e Ativismo Ambientalista

É defensor das áreas naturais e rurais do município, destacando a importância da agrobiodiversidade e da agroecologia, em especial das feiras ecológicas, um diferencial de Porto Alegre. Foi o proponente e também executor do projeto Frutas Nativas de Porto Alegre, coordenado pelo biólogo Matias Köhler, em edital conquistado pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), com a publicação de Cartilha sobre o tema, incluindo marcação de matrizes, oficinas e a produção de mudas de espécies frutíferas no Viveiro Municipal na então SMAM.


Participa, de forma voluntária, da representação do InGá nos Conselhos Municipal e Estadual de Meio Ambiente (COMAM e CONSEMA, respectivamente), colaborando na construção de políticas públicas em biodiversidade, tendo atuado como ex-presidente, e atual membro, da Câmara Técnica de Áreas Naturais e Paisagem Urbana do COMAM.


Atuou como membro do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), entre 2011 e 2012, representando as entidades ambientalistas da Região Sul, e da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que avalia a aprovação dos transgênicos (2006 a 2010), na vaga de especialista em meio ambiente pela sociedade, indicado pela ministra de Meio Ambiente Marina Silva, e como suplente do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).


Em 2002 e 2014, participou, como convidado da Fundação Zoobotânica e da SEMA, na coordenação das duas edições das Listas Oficiais da Flora Ameaçada do Rio Grande do Sul. Desde 2016, junto com o InGá, e colaboração de colegas botânicos, foi o coordenador da Lista da Flora Ameaçada com ocorrência em Porto Alegre (80 espécies vegetais), reconhecida pela Resolução COMAM n. 02/2024.

Tecnicamente, questionou o Loteamento Ipanema, da empresa Maiojama, em parecer realizado há mais de 20 anos, colaborando para o reconhecimento da existência de Mata Atlântica no local, em uma área de 13 hectares, com a presença de espécies ameaçadas de extinção não registradas pelo estudo de impacto ambiental, colaborando para o impedimento legal ao empreendimento até os dias atuais. Também elaborou pareceres, no Comam, em defesa de outras áreas naturais, contra os empreendimentos, no caso o Arado Velho (Pontal do Arado, em Belém Novo), Alphaville II, e em defesa das áreas verdes urbanas (Parque da RedençãoParque HarmoniaMorro da PolíciaMorro Santana, etc.). Participou também de capítulos do Atlas Ambiental de Porto Alegre (1998) e do Diagnóstico Ambiental de Porto Alegre (2009). Denunciou, c om registros fotográficos, no Ministério Público Estadual e Ministério Público de Contas, a destruição e a concessão predatória do Parque Harmonia. Denunciou, por meio do InGá, no MPRS e na justiça o abandono do Viveiro Municipal por mais de 3 anos, o que resultou na obrigação da Prefeitura Municipal de retomar sua construção e funcionamento, hoje em recuperação e só voltado para plantas nativas de Porto Alegre e Rio Grande do Sul. 

No InGá, também foi o idealizador do Fórum Sobre Impacto das Hidrelétricas no RS, e eventos realizados entre 2001 a 2008, colaborando tecnicamente e em mobilizações para o único indeferimento da licença para a usina hidrelétrica de Paiquerêno rio Pelotas, entre Bom Jesus (RS) e Lages (SC), que ameaçava destruir 4 mil hectares do maior remanescente de floresta com araucária do sul do Brasil. Foi idealizador do livro Flora da Bacia do rio Pelotas: uso e conservação de espécies, com apoio de projeto do InGá financiado pela Fundação O Boticário.






Luta pela retomada do Plano de Arborização Urbana de Porto Alegre (PDAU) e contra o processo atual de arboricídio, encaminhando queixas de cortes e podas indiscriminadas, via ofícios, à SMAMUS e ao MPRS.  É também defensor ativo do Jardim Botânico de Porto Alegre e do Museu de Ciências Naturais, pertencentes à SEMA, após a extinção da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, em mobilizações e em ações na Justiça, no Ministério Público, contra o fechamento e precarização progressiva destas instituições, mesmo sendo reconhecidas legalmente como Patrimônio Ambiental do Estado.

Em 2020, esteve na luta conjunta com o Comitê de Combate à Megamineração no RS, contribuindo, em documento do Painel de Especialistas, na contestação do EIA-RIMA do Projeto Mina Guaíba, que visava a exploração de carvão mineral em Charqueadas e Eldorado do Sul em uma área de mais de 4 mil hectares.

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Em meados de 1980, filiado então ao Partido dos Trabalhadores, foi um dos fundadores do Núcleo dos Ecologistas do PT Em 2024, filiou-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e vem se integrando à Setorial Ecossocialista do partido, já que considera esta pauta imprescindível para a superação do capitalismo, que considera um sistema incompatível com a vida. Em 2020, foi o responsável pela elaboração de propostas do InGá para as eleições municipais daquele ano, no documento “Dar visibilidade à Temática Ambiental nas Eleições Municipais de Porto Alegre”.


Participou de várias mobilizações e atividades contra o uso de agrotóxicos, questionando também a estratégia de dominação dos transgênicos na agricultura.



Também faz parte do Movimento Ciência Cidadã (MCC), em nível nacional, criado por acadêmicos e movimentos anti-transgênicos e por seus ex-colegas da CTNBio. Também faz parte da União de Científicos Comprometidos com la Sociedad y la Naturaleza en America Latina (UCCSNAL).

Uma das coisas que mais gosta de fazer são as atividades ao ar livre, no sentido da maior Reconexão com a Natureza, para superar o apartheid urbano atual, aprendendo e ensinando botânica, sob a inspiração de Paulo Freire, trazendo mais para perto a importância da biodiversidade, em atividades em parques e áreas verdes, no que vem chamando de “Conversa ao Pé das Árvores”.

Em março de 2024, recebeu a Comenda Porto do Sol, da Câmara de Vereadores, por iniciativa do vereador Pedro Ruas, por seu engajamento nas causas socioambientais de Porto Alegre. 



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