Tendo em vista as Conferências Internacionais sobre o Clima, no caso a próxima COP 30 que ocorrerá em Belém em novembro de 2025, poderemos esperar alguma novidade para enfrentar a emergência climática atual, já que as anteriores foram um fracasso?
Independentemente do número de
delegações, provavelmente inferior a COP 29 que ocorreu no ano passado em
Azerbaijão, as propostas para enfrentar o colapso climático em curso seguem
sendo tímidas e reducionistas. O que significa concentrar esforços no aumento
do financiamento de 1,3 trilhão de dólares cobrados dos países “desenvolvidos”
para os países ditos “em desenvolvimento” rumarem à chamada transição
energética justa e estabelecer metas, se os demais indicadores socioambientais seguem
perdas sem precentes? Como garantir adaptação climática a uma economia que aprofunda
o esgotamento da resiliência planetária?
E os demais desajustes (cinco, entre seis) que
atingem a Ecosfera, assinalados pelo Centro de Resiliência de Estocolmo[1], liderados por Katherine Richardson e John Rokström, que aponta superação dos limites que
sustentam a vida (perda inédita de biodiversidade, escassez crescente de água
doce, novos poluentes sintéticos, excesso de nitrogênio e fósforo em desajustes
nos ciclos biogeoquímicos, além de outros próximos a serem ultrapassados)?
Não haverá COP nenhuma possivel de enfrentar verdadeiramente estes problemas, nas supostas boas intenções dos governos que estão vinculados ao evento de novembro, se o paradigma é o mesmo, ou pior, incrementando os mecanismos de mercado (mercado de carbono). Ou seja, se o crescimento econômico, e por consequência a concentração de capital, continuar sendo o guia do tal desenvolvimento, em um imaginário como uma cenoura amarrada na frente de um herbívoro, a economia permanecerá corroendo as bases da Ecosfera, no rumo do colapso (neoliberal-capitalista) que segue também no Brasil.
Uma das questões centrais, que gostaríamos de assinalar, quanto ao
descaminho econômico e ambiental refere-se à torneira dos financiamentos governamentais para a
expansão degradatória, sem limites, das atuais atividades insustentáveis
(monoculturas, mineração, hidrelétricas, portos, infraestrutura logística de
exportação de commodities, etc.) sobre os territórios frágeis da
sociobiodiversidade.
A economia de fim de mundo segue
vigente no Brasil, talvez mais desacelerada do que entre os anos 2019 a 2022, e
com alguns controles e ajustes e algumas compensações aqui e ali. Mas, não há
como estancar o processo de destruição de nossos biomas diversos e ecorregiões,
com vocações locais genuínas, no atropelo de uma Licença Ambiental Especial,
editada logo após a aprovação do PL da Devastação[2], agora Lei n. 15.190/2025[3], pela sanha de crescimento
acelerado de megaobras e meganegócios concentradores que repetem a tragédia
anunciada da Usina Hidrelétrica Belo Monte, por exemplo.
Em relação à Amazônia, mesmo com uma leve
redução no seu desmatamento (7% em 2024)[4], todos os estudos apontam,
com muito alta probabilidade, que estarmos atingindo o ponto de não retorno[5] das florestas e demais
ecossistemas naturais dos biomas brasileiros, eliminando territórios indígenas e
comunidades tradicionais remanescentes, corroendo também a diversidade biológica e
seus processos ecológicos garantidos por nossa Constituição Federal. Cabe
destacar que o Brasil se destaca como um grande emissor de gases de efeito
estufa (GEE), principalmente levando em consideração o desmatamento da Amazônia.
Entretanto, também é digno de nota que a Amazônia, que funciona como um regulador climático na América do Sul, as atividades predatórias como pecuária, monoculturas, garimpo e mineração,
incluindo o bioma Cerrado, comprometem também as nascentes e o abastecimento de água
das principais bacias hidrográficas do país.
Mas, infelizmente, frente à situação calamitosa, no meio deste ano de 2025 o governo federal dobrou a aposta em um Plano Safra de mais de meio trilhão de reais (516 bi)[6] de dinheiro público para as monoculturas industriais do Agronecronegócio quimicodependente. No lançamento do Plano, o governo defendeu que o Brasil deve se consolidar como um “celeiro do mundo”, com o “incremento das exportações do agronegócio brasileiro”, no “maior Plano Safra da história” (sic.), assinalando que isso seria garantir segurança alimentar. Entretanto, esquecem de dizer que nos últimos 50 anos (1976-2025) o Brasil teve reduzida sua área de plantio de arroz e feijão em 71% e 40% respectivamente. Além disso, nas últimas duas décadas, entre 2003 e 2022, tivemos o aumento do uso de agrotóxicos em 371%, segundo os relatórios de comercialização destes produtos disponíveis pelo Ibama[7].
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Então, além dos discursos de Lula, importantes
e aplaudidos na ONU, inclusive por muitos de nós, o momento requer que possamos
discutir, urgentemente, novos modelos de economias, com vocações locais
socioecológicas em outro paradigma. Que principais soluções mais emergenciais
podemos trazer ao debate para diminuir os GEE, infelizmente
propositadamente ignoradas pelos setores que dominam a economia atual?
É preciso afirmar que, dentro do
atual formato, não há solução possível: a crise climática exige uma ruptura com
o paradigma capitalista e seus espaços de conciliação, sob pena de perpetuar
uma engrenagem que avança sobre os limites da vida e da própria Terra. Além disso, no âmbito das universidades, não é possivel seguirmos com metas de competitividade e incremenbto do círculo vicioso desta economia do esgotamento.
Diminuir consumo supérfluo; investir
em eficiência energética; estancar recursos de financiamento público para
atividades que mantenham a violação da integridade socioambiental dos
territórios indígenas e tradicionais de nossos biomas; inverter a economia
atual exportadora de matérias primas em economias justas em harmonia com nossos
biomas; reconverter as atividades industriais em produtos essenciais, na saúde,
reuso e reciclagem. Enfrentar o sistema financeiro depredador que faz girar o
ciclo vicioso da economia atual; sobretaxar grandes fortunas; investir em
educação para a sustentabilidade ecológica e a igualdade econômica... Entre
outras propostas que não estão no centro do debate da COP 30.
Estes temas deverão fazer parte da precisamos
de uma Cúpula dos Povos, a fim de se articular organizações de base popular,
por regiões e países, envolvendo institutos de pesquisa, movimentos contra o
racismo ambiental e, sobretudo, as principais vítimas da crise climática.
As universidades e demais instituições
de ensino superior e de pesquisa públicas devem se integrar às atividades de pesquisa,
extensão/interação e ensino, além de se engajar às lutas existentes (barrando especialmente a PEC da Reforma Administrativa), fortalecendo
iniciativas públicas de recuperação ambiental, funcionando de forma multilateral, com um
horizonte claro da construção de novas sociedades onde se busque a cooperação,
a igualdade e a superação do sistema capitalista.
[2] https://reporterbrasil.org.br/2025/08/pl-devastacao-lula-licenca-especial-acelera-exploracao-foz-amazonas/
[4] https://imazon.org.br/imprensa/amazonia-fecha-2024-com-queda-de-7-no-desmatamento-mas-alta-de-497-na-degradacao/
[5] https://www.ihu.unisinos.br/categorias/622007-ja-atingimos-ponto-de-nao-retorno-em-algumas-regioes-da-amazonia-diz-pesquisadora