sexta-feira, 10 de outubro de 2025

O QUE SE PODE ESPERAR DA COP 30?

Tendo em vista as Conferências Internacionais sobre o Clima, no caso a próxima COP 30 que ocorrerá em Belém em novembro de 2025, poderemos esperar alguma novidade para enfrentar a emergência climática atual, já que as anteriores foram um fracasso?

Independentemente do número de delegações, provavelmente inferior a COP 29 que ocorreu no ano passado em Azerbaijão, as propostas para enfrentar o colapso climático em curso seguem sendo tímidas e reducionistas. O que significa concentrar esforços no aumento do financiamento de 1,3 trilhão de dólares cobrados dos países “desenvolvidos” para os países ditos “em desenvolvimento” rumarem à chamada transição energética justa e estabelecer metas, se os demais indicadores socioambientais seguem perdas sem precentes? Como garantir adaptação climática a uma economia que aprofunda o esgotamento da resiliência planetária? 

E os demais desajustes (cinco, entre seis) que atingem a Ecosfera, assinalados pelo Centro de Resiliência de Estocolmo[1], liderados por Katherine Richardson e John Rokström, que aponta superação dos limites que sustentam a vida (perda inédita de biodiversidade, escassez crescente de água doce, novos poluentes sintéticos, excesso de nitrogênio e fósforo em desajustes nos ciclos biogeoquímicos, além de outros próximos a serem ultrapassados)?

Não haverá COP nenhuma possivel de enfrentar verdadeiramente estes problemas, nas supostas boas intenções dos governos que estão vinculados ao evento de novembro, se o paradigma é o mesmo, ou pior, incrementando os mecanismos de mercado (mercado de carbono). Ou seja, se o crescimento econômico, e por consequência a concentração de capital, continuar sendo o guia do tal desenvolvimento, em um imaginário como uma cenoura amarrada na frente de um herbívoro, a economia permanecerá corroendo as bases da Ecosfera, no rumo do colapso (neoliberal-capitalista) que segue também no Brasil.

Uma das questões centrais, que gostaríamos de assinalar, quanto ao descaminho econômico e ambiental refere-se à torneira dos financiamentos governamentais para a expansão degradatória, sem limites, das atuais atividades insustentáveis (monoculturas, mineração, hidrelétricas, portos, infraestrutura logística de exportação de commodities, etc.) sobre os territórios frágeis da sociobiodiversidade.

A economia de fim de mundo segue vigente no Brasil, talvez mais desacelerada do que entre os anos 2019 a 2022, e com alguns controles e ajustes e algumas compensações aqui e ali. Mas, não há como estancar o processo de destruição de nossos biomas diversos e ecorregiões, com vocações locais genuínas, no atropelo de uma Licença Ambiental Especial, editada logo após a aprovação do PL da Devastação[2], agora Lei n. 15.190/2025[3], pela sanha de crescimento acelerado de megaobras e meganegócios concentradores que repetem a tragédia anunciada da Usina Hidrelétrica Belo Monte, por exemplo.

Em relação à Amazônia, mesmo com uma leve redução no seu desmatamento (7% em 2024)[4], todos os estudos apontam, com muito alta probabilidade, que estarmos atingindo o ponto de não retorno[5] das florestas e demais ecossistemas naturais dos biomas brasileiros, eliminando territórios indígenas e comunidades tradicionais remanescentes, corroendo também a diversidade biológica e seus processos ecológicos garantidos por nossa Constituição Federal. Cabe destacar que o Brasil se destaca como um grande emissor de gases de efeito estufa (GEE), principalmente levando em consideração o desmatamento da Amazônia. Entretanto, também é digno de nota que a Amazônia, que funciona como um regulador climático na América do Sul, as atividades predatórias como pecuária, monoculturas, garimpo e mineração, incluindo o bioma Cerrado, comprometem também as nascentes e o abastecimento de água das principais bacias hidrográficas do país.

Mas, infelizmente, frente à situação calamitosa, no meio deste ano de 2025 o governo federal dobrou a aposta em um Plano Safra de mais de meio trilhão de reais (516 bi)[6] de dinheiro público para as monoculturas industriais do Agronecronegócio quimicodependente. No lançamento do Plano, o governo defendeu que o Brasil deve se consolidar como um “celeiro do mundo”, com o “incremento das exportações do agronegócio brasileiro”, no “maior Plano Safra da história” (sic.), assinalando que isso seria garantir segurança alimentar.  Entretanto, esquecem de dizer que nos últimos 50 anos (1976-2025) o Brasil teve reduzida sua área de plantio de arroz e feijão em 71% e 40% respectivamente. Além disso, nas últimas duas décadas, entre 2003 e 2022, tivemos o aumento do uso de agrotóxicos em 371%, segundo os relatórios de comercialização destes produtos disponíveis pelo Ibama[7].



No que se refere ao petróleo, este produto foi o principal item da pauta de exportação do Brasil em 2024, representando 44 bilhões de dólares, na frente dos grãos de soja (42 bi) e do minério de ferro (30 bi). Estes três itens são os principais produtos de exportação em cada um dos  mineração e a megalogística de sangria de milhões de toneladas de minérios e grãos exportados para China ou outros países que se nutrem de nossa subserviência de Sul Global quase exaurido de recursos naturais neste tabuleiro da divisão internacional do trabalho. Enquanto o BNDES seguir gastando dezenas de bilhões de reais em atividades insustentáveis (com alegada contribuição para uma suposta transição energética), favorecendo centenas de milhares de hectares de plantios de eucalipto para a indústria de exportação de celulose ou, coom outro exemplo, o aumento de mineração de lítio, cobre, cobalto e outros metais críticos para suprir o crescimento econômico ilimitado em um planeta limitado, não haverá COP que nos salve do colapso ecossistêmico iminente, como a natureza nos alerta mais e mais.


Então, além dos discursos de Lula, importantes e aplaudidos na ONU, inclusive por muitos de nós, o momento requer que possamos discutir, urgentemente, novos modelos de economias, com vocações locais socioecológicas em outro paradigma. Que principais soluções mais emergenciais podemos trazer ao debate para diminuir os GEE, infelizmente propositadamente ignoradas pelos setores que dominam a economia atual?

É preciso afirmar que, dentro do atual formato, não há solução possível: a crise climática exige uma ruptura com o paradigma capitalista e seus espaços de conciliação, sob pena de perpetuar uma engrenagem que avança sobre os limites da vida e da própria Terra. Além disso, no âmbito das universidades, não é possivel seguirmos com metas de competitividade e incremenbto do círculo vicioso desta economia do esgotamento.  

Diminuir consumo supérfluo; investir em eficiência energética; estancar recursos de financiamento público para atividades que mantenham a violação da integridade socioambiental dos territórios indígenas e tradicionais de nossos biomas; inverter a economia atual exportadora de matérias primas em economias justas em harmonia com nossos biomas; reconverter as atividades industriais em produtos essenciais, na saúde, reuso e reciclagem. Enfrentar o sistema financeiro depredador que faz girar o ciclo vicioso da economia atual; sobretaxar grandes fortunas; investir em educação para a sustentabilidade ecológica e a igualdade econômica... Entre outras propostas que não estão no centro do debate da COP 30.

Estes temas deverão fazer parte da precisamos de uma Cúpula dos Povos, a fim de se articular organizações de base popular, por regiões e países, envolvendo institutos de pesquisa, movimentos contra o racismo ambiental e, sobretudo, as principais vítimas da crise climática.

As universidades e demais instituições de ensino superior e de pesquisa públicas devem se integrar às atividades de pesquisa, extensão/interação e ensino, além de se engajar às lutas existentes (barrando especialmente a PEC da Reforma Administrativa), fortalecendo iniciativas públicas de recuperação ambiental, funcionando de forma multilateral, com um horizonte claro da construção de novas sociedades onde se busque a cooperação, a igualdade e a superação do sistema capitalista. 






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