segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Biodiversidade Brasileira Saberes e Aromas - Livro



O Brasil é um dos países com maior biodiversidade do mundo, possuindo cerca de 20% das plantas conhecidas do planeta. Contudo, somente pequena parcela da população conhece parte desta diversidade de plantas alimentícias nativas de cada bioma e de cada região brasileira.
Lamentavelmente, a agricultura moderna segue a se contrapor a esta diversidade. Teima-se em conceber a homogeneização de nossos ambientes, outrora ricos ecossistemas, para a produção em alta escala de monoculturas de exportação, gerando uma série de problemas ambientais, como o uso crescente de agrotóxicos e outros insumos que, justamente, se contrapõem à biodiversidade. A perda da diversidade agrícola e de culturas alimentícias, segundo a FAO, trouxe a perda de aproximadamente, 75% da diversidade agrícola mundial.
Entretanto, existe muito o que resgatar e (re)valorizar. Cabe lembrar que somente na Região Metropolitana de Porto Alegre, Valdely Kinupp encontrou mais de 300 espécies de plantas nativas alimentícias. No Brasil, se levarmos em conta as mais de 33 mil espécies de plantas fanerogâmicas brasileiras catalogadas pelo Projeto Flora do Brasil, usando-se estimativas com percentuais conservadores de plantas alimentícias, obteríamos uma estimativa de, pelo menos, três mil plantas alimentícias em nosso país.
No Sul do Brasil, alimentos como o pinhão da araucária, os frutos carnosos dos butiás (Butia spp), os frutinhos condimentares da aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolia), o fruto produtor de polpa da juçara (Euterpe edulis), a hortaliça ora-pro-nobis (Pereskia aculeata), entre centenas de espécies, começam a ser valorizados e diferenciados em diferentes comunidades humanas e em diferentes mercados.
Infelizmente, existem casos emblemáticos de contradição e descaso com as nossas espécies nativas, a exemplo da feijoa ou goiabeira-serrana (Acca sellowiana) planta frutífera da região Sul. Ha mais de um século esta espécie foi levada, desde o sul do Brasil e do Uruguai, para os EUA. Hoje é cultivada comercialmente, e com sucesso, na Nova Zelândia, Austrália e Colômbia. Em nosso país é, ainda, praticamente desconhecida da maioria da população.
A diversidade biológica e a manutenção mínima de vegetação natural são fundamentais para a funcionalidade ecossistêmica necessária no campo. Um dos pilares básicos para a sustentabilidade ambiental é a riqueza de flora e fauna, também associada à cultura alimentar regional e à ecologia humana. A produção de alimentos, com diversidade, é uma função também social amparada na Constituição Federal, que garante o direito ao meio ambiente equilibrado, com proteção à diversidade biológica e aos processos ecológicos.
Existe um movimento de resgate das plantas nativas na alimentação, associado muitas vezes à agroecologia, situação que também reflete a busca por uma vida mais saudável. Esta agrobiodiversidade emerge, principalmente, por meio da agricultura das famílias campesinas que veem sentido na convivência com a diversidade de produção de sementes crioulas, na revalorização da natureza e, também, dos pratos tradicionais.
Cabe destacar aqui iniciativas importantes de emergência do tema, que nos dão alento, caso da Iniciativa Plantas para o Futuro que, desde a década passada, vem promovendo o conhecimento e um uso mais amplo das nossas espécies nativas, a exemplo do livro lançado  pelo Ministério do Meio Ambiente “Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor Econômico Atual ou Potencial – Plantas para o Futuro - Região Sul” e que está sendo expandido para todas as regiões brasileiras. Também merece ser ressaltado o apoio do Projeto Biodiversidade para Alimentação e Nutrição (BFN – sigla em inglês) que apoia o fortalecimento institucional de grupos que se dedicam a este tema, desde a academia até chefs e cozinheiros, em suas diferentes regiões e culturas tradicionais do país.
Seguem-se estudos dos conteúdos nutricionais e dos preparos dos produtos dessas plantas, em nível gastronômico, por instituições de pesquisa e grupos de pessoas que se sentem mais felizes com a busca destas fontes diversificadas de alimentos. E a experimentação coletiva dos pratos elaborados e algo muito estimulante.
Fundamentalmente, para o sucesso do uso de nossa biodiversidade alimentar temos que celebrar obras como esta, na esperança de que possa sensibilizar nossos governantes e as forças vivas da sociedade, a fim de colocar este tema no eixo estruturante das ações em prol de uma sociedade sustentável, que proporcione condições para a humanidade viver com mais igualdade.

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