domingo, 28 de março de 2021

Preservação Ambiental em Nova Petrópolis

Martin Grings *

O município de Nova Petrópolis está localizado na Encosta Meridional do Planalto da Serra Geral, região de contato entre a Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária) e a Floresta Estacional Decidual (Florestas de encostas e fundos de vales). O contato entre duas formações florestais distintas, bem como a grande amplitude altitudinal (de 32 m, no Tirol a 840 m, no Morro da Fome e Chapadão), confere uma grande riqueza de espécies de fauna e flora. Até o momento, foram catalogadas cerca de 204 espécies de árvores nativas para o município (34% do total do Estado) (em 2009, Grings e Brack assinalavam 194 espécies), das quais uma espécie nova para a ciência (Mimosa sobralii Grings & O.S.Ribas). 

Mimosa sobralii espécie recém descrita pelo autor, e já consta Em Perigo (decreto 52.109/2014) 


Para outros hábitos de plantas nativas (ervas, arbustos, trepadeiras, epífitas, etc.) ainda não há um número catalogado, mas também já foi descrita uma nova espécie de arbusto localizada em nosso município, endêmica da região. Quanto à fauna, também não existem números catalogados para o município. Mas cabe destacar que Nova Petrópolis fez parte do primeiro levantamento de aves realizado no Estado do Rio Grande do Sul e publicado em língua alemã numa revista científica do Império Austro-Húngaro, em 1880. A maioria das 200 espécies de aves observadas para a nossa região naqueles anos ainda é encontrada nos dias atuais em nossas florestas. Outras já se extinguiram regionalmente, como é o caso do macuco e do falcão-de-peito-laranja, entre outras. 

Perfil esquemático com os principais tipos de vegetação com presença de árvores em Nova Petrópolis.  (https://isb.emnuvens.com.br/iheringia/article/view/130/137)

Porém, toda essa riqueza não está distribuída equitativamente pelas florestas do nosso município. Isso porque algumas espécies de plantas são climácicas (de clímax florestal), ou seja, desenvolvem-se apenas em florestas antigas, já muito raras na região. Quanto à fauna, ocorre o mesmo, algumas espécies não conseguem sobreviver em pequenos fragmentos florestais desconectados ou em florestas muito jovens.

Os motivos são muitos para preservarmos a vegetação, flora e fauna de nosso município. A Constituição brasileira (Art. 225) garante como direito de todo cidadão o meio ambiente ecologicamente equilibrado, reconhecendo o papel fundamental da vegetação, fauna e flora para as nossas vidas. A vegetação nativa é responsável pela “produção de água”, já que as raízes das árvores seguram a água no solo por mais tempo. O próprio ambiente florestal dificulta a evaporação da água do solo e do ar no interior da floresta, além de manter a temperatura mais baixa quando comparado a um ambiente sem florestas ou sem nenhuma cobertura vegetal.

Uma infinidade de insetos nativos polinizadores presta este importante serviço também para a agricultura. Diversas outras espécies da fauna auxiliam na regulação de populações de roedores e outras pragas das plantações. A nossa flora nativa apresenta grande potencial para utilização como espécies alimentícias, medicinais, ornamentais, fibras, etc. Outro grande potencial de Nova Petrópolis é o turismo ambiental, ainda pouco explorado no município. Na América do Norte e Europa, a observação de aves já responde por bilhões de dólares para a economia. No Brasil, está começando a crescer esse tipo de turismo conhecido por birdwatching, significando uma vantagem para Nova Petrópolis, que já tem vocação turística. Basta oferecer novos produtos e valorizar o que temos por natural.

Embora exista uma boa legislação ambiental em nosso país, muitas vezes ela não é seguida ou é aplicada de forma errada. Por isso, Nova Petrópolis necessita de uma Secretaria do Meio Ambiente independente e com técnicos concursados, evitando, assim, a ingerência política. A compensação ambiental e mitigação de impactos de empreendimentos, a manutenção de corredores ecológicos, bem como a criação de novos parques ambientais para preservação são caminhos para crescer e, ao, mesmo tempo preservar.


* Biólogo, Doutorando em Botânica na UFRGS (E-mail: martin.grings@gmail.com)