sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Manifesto de Entidades Ambientalistas como alerta pela não nomeação de Ana Pellini para a SEMA

Diante das especulações crescentes de que a Sra. Ana Maria Pellini possa assumir a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul (SEMA), vimos expressar nossa profunda preocupação e protesto diante do iminente risco de revivermos uma avalanche de retrocessos caso este fato venha a se concretizar. Cabe destacar que esta pessoa foi responsável pela emissão de licenças que geraram inúmeras ações[1] em decorrência de desconformidades com a legislação ambiental, no período em que foi Presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM, entre maio de 2007 a setembro de 2009.

Para os funcionários do órgão, para o movimento ambientalista e também para todos aqueles ligados à área ambiental e que se esforçam no fortalecimento do Sistema Estadual de Proteção Ambiental (SISEPRA) foi sem dúvida o período mais traumático e de retrocessos já vivido. Na época, por exemplo, houve a tentativa de deixar sem efeito o Zoneamento Ambiental da Silvicultura[2] [3] [4], com reversão na justiça[5], permitiu-se a emissão de Licenças Prévias[6] para grandes barragens, sem Estudos de Impacto Ambiental, contrariando-se a legislação vigente, emitiu-se LP para a quadruplicação da Aracruz contrariando-se pareceres técnicos[7],  situações que geraram ações na justiça via entidades ambientalistas e Ministério Público, com derrotas constrangedoras para o Estado, além de outros conflitos internos e externos na tentativa de se flexibilizar licenças para grandes empreendimentos de alto impacto ambiental.

Consideramos inconcebível que se promovam pessoas que nunca tiveram vínculo anterior com a área ambiental e ficaram marcadas por transformar a FEPAM, em lugar de um órgão gestor de meio ambiente, em um mero órgão despachante de licenças, com o agravante de irregularidades, que geraram processos judiciais também por assédio moral em licenciamentos, e outras situações absurdas que não podem ser esquecidas.

As entidades, o movimento ambientalista e a sociedade gaúcha como um todo veem crescer o descaso com a causa ambiental no Rio Grande do Sul e esperam respostas por parte do novo governo estadual no sentido de enfrentar os problemas ambientais mais urgentes, dentro de um processo de fortalecimento das políticas ambientais, principalmente na SEMA, para garantir a qualidade de vida à população e resgatar a biodiversidade deste  Estado, em situação de crise ecológica crescente.

Deste modo, parece-nos fundamental destacar que para chefiar a Secretaria Estadual de Meio Ambiente deva-se prezar, obrigatoriamente, por pessoas com formação mínima na área ambiental, além de se exigir um histórico de transparência e empenho na proteção do meio ambiente – e não uma mera flexibilização – e um bom diálogo com todos os setores e atores da sociedade, condições estas que são esperadas não só pelas entidades ambientalistas, mas por toda a sociedade gaúcha.

Reiteramos, assim, nosso repúdio às tentativas de retrocesso na área ambiental, cobrando-se da imprensa e do novo governo a indicação de nomes de pessoas com currículo e trajetória compatíveis com o cargo máximo de uma Secretaria que deve ter um papel estratégico para a integração e implementação de políticas públicas eficientes e duradouras numa área tão carente. A sociedade gaúcha exige pessoas mais preparadas para assumir este papel de importância vital, lembrando-se que o Estado do Rio Grande do Sul já foi pioneiro na área ambiental do Brasil.

Colocamo-nos à disposição para diálogo com a equipe do novo governo para tratar das demandas ambientais já destacadas em documentos prévios e posteriores às eleições e que esperam respostas da nova equipe que tratará da Política Ambiental do Estado em conjunto com as demais pastas.



Porto Alegre, 12 de dezembro de 2014

Assinam

InGá- Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Porto Alegre)*

ONG Mira Serra – Projeto Mira Serra (Porto Alegre)

Agapan – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural  (Porto Alegre)

CEA – Centro de Estudos Ambientais (Pelotas e Rio Grande)

UPAN- União Protetora do Ambiente Natural (São Leopoldo)

MoGDeMA - Movimento Gaúcho em Defesa do meio Ambiente

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Frutíferas nativas do Rio Grande do Sul: patrimônio negligenciado pelo Estado, em resgate pela agricultura familiar


Dentro do potencial das plantas da agrobiodiversidade nativa, no caso também chamadas plantas alimentícias não convencionais (PANCs), representadas em geral por hortaliças, frutas e sementes, destacamos aqui as centenas e milhares de frutas nativas brasileiras. No caso do Rio Grande do Sul, temos, pelo menos, 201 espécies com frutos ou sementes comestíveis, o que chamamos de frutíferas. A diversidade de plantas deixa claro o enorme potencial de seu uso em variados sistemas de produção. As frutas nativas podem ser utilizadas in natura e/ou em processados como em sucos, doces, sorvetes, geleias, polpas, molhos doces e salgados, condimentos, temperos, entre outras formas de uso.  Deste total, cerca de 40% ocorre no bioma Pampa e pelo menos 90% no bioma Mata Atlântica. 
 

































                          
Entre as formas biológicas das frutíferas, a maioria corresponde a árvores ou palmeiras (61%) e o restante pertence a outras formas biológicas, como ervas, arbustos, trepadeiras e epífitas. 
O cultivo e a utilização são crescentes, devendo permanecer associados aos sistemas agroecológicos, em especial os SAFs (sistemas agroflorestais), sob o resguardo dos agricultores familiares e das populações tradicionais. O conhecimento dessas espécies e das regiões onde ocorrem promove o resgate da cultura alimentar e medicina popular regionais, além de novas receitas saborosas e saudáveis, o quê anima os grupos de agricultores e produtores a reintegrar o ser humano à natureza.
O que chama a atenção é que muitas da frutas nativas do Brasil, e neste caso o Rio Grande do Sul, estão sendo desenvolvidas em outros países.  É o caso da goiabeira-serrana (feijoa), araçá, cerejeira-do-rio-grande, butiá (jelly-palm), entre outras. 
Morte de butiiazeiros (jelly-palm), espécie frutífera e ameaçada de extinção e pepininhos-do-mato (Melothria sp.),situação que é ilustrativa do abuso da expansão, sem controle, de culturas de soja, até a beira do asfalto das rodovias (na faixa de domínio federal ou estadual), com o uso de herbicidas, na região do Planalto do RS, Santa Rosa.