quinta-feira, 24 de agosto de 2017

JFRS proíbe licenciamento para construção da Hidrelétrica de Panambi por ocasionar dano ao Parque Estadual do Turvo

23 de agosto de 2017

A 1ª Vara Federal de Santa Rosa (RS) proibiu o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de dar prosseguimento ao processo de licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica de Panambi na cota de 130m ou em qualquer outra que implique danos ao Parque Estadual do Turvo. A sentença, do juiz Rafael Lago Salapata, foi proferida ontem (22/8).


Os ministérios públicos Federal e Estadual ingressaram com ação contra o órgão ambiental e as Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás) alegando que a construção da usina, nos moldes pretendidos pelas rés, alagará em torno de 60 hectares da unidade de conservação de proteção integral. Afirmaram que o Ibama já aprovou os Termos de Referência e que a próxima fase seria a publicação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que antecederia a concessão da licença prévia para início das obras.
Os autores defenderam o risco de extinção de espécies ameaçadas e outras endêmicas do Turvo e da Bacia Hidrográfica do Rio Uruguai com a implantação da hidrelétrica da forma pretendida. Eles destacaram ainda que o parque é tombado como patrimônio cultural e ambiental e considerado zona núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.
O Ibama e a Eletrobrás contestaram argumentando que o real impacto do empreendimento somente poderá ser mensurado após a elaboração do EIA e a produção do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Sustentaram que os estudos preliminares indicaram lesão ínfima ao Parque Estadual do Turvo em apenas 0,3% da área total, que corresponderia a aproximadamente 60 hectares, caso o nível máximo do reservatório atingisse a marca dos 130m.
Eles alegaram que isso ainda poderia ser revisto com o fim dos estudos para uma opção que não inundasse o trecho ou para que se procedesse o processo de desafetação de parte da unidade de conservação para instalação do complexo hidrelétrico. O Ibama ainda defendeu a nulidade do tombamento do Parque do Turvo realizado pelo Estado do RS em relação aos terrenos marginais do Rio Uruguai porque pertencem à União.
Construção da hidrelétrica afetaria Turvo
A ação ingressou em 16 de janeiro de 2015, sendo proferida antecipação de tutela onze dias depois. A liminar proibiu a expedição de licença prévia para a Usina Hidrelétrica Panambi na cota de 130m ou em qualquer outra que acarretasse danos ao Parque Estadual do Turvo e suspendeu o processo de licenciamento ambiental, incluindo a realização EIA/RIMA. Em grau recursal, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) manteve a liminar concedida.
Ao analisar o conjunto probatório anexado aos autos, o juiz federal Rafael Lago Salapata pontuou que a lide é extremamente delicada, “eis que estão em rota de colisão dois bens jurídicos constitucionalmente tutelados, os quais encerram interesses sensíveis e de grande relevância para o futuro do país. De um lado, o abastecimento energético que, além de estratégico, é fundamental para o desenvolvimento econômico brasileiro e o bem-estar dos cidadãos; de outro, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito fundamental de Terceira Geração e patrimônio da humanidade que deve ser assegurado para a preservação da biodiversidade e manutenção de vida digna às futuras gerações”.
O magistrado pontuou que, durante a elaboração do inventário hidrelétrico na região, foram estudadas cinco possibilidades de aproveitamento energético, “sendo que a alternativa considerada mais vantajosa foi, justamente, a que envolve a maior cota de alagamento do reservatório da UHE Panambi (130 metros), bem ainda a necessidade de realocação total de quatro núcleos urbanos – Garruchos (ARG), Garruchos (BR), Alba Posse (ARG) e Porto Mauá (BR)”.
Segundo Salapata, o dano ao parque não seria mera possibilidade, já que o inventário hidrelétrico teria confirmardo esse panorama. Para ele, o Ibama, mesmo conhecendo esta circunstância, emitiu o Termo de Referência para elaboração do EIA/RIMA, e a Eletrobrás, apesar de existir obstáculo intransponível para a continuação do empreendimento, confirmou a intenção de construir a usina na cota que selecionou no plano de trabalho, sem considerar a possibilidade de adotar projeto subsidiário.
O juiz destacou que os especialistas ouvidos durante a instrução processual ressaltaram a importância ecológica da unidade de conservação. Eles disseram que, apesar de ocupar pequena área territorial, ela abriga uma riqueza biológica muito vasta, além de ser reduto de diversas espécies nativas em risco de extinção, como o Dourado (peixe), o Gavião-real, a Jaguatirica, a Anta e o porco Queixada.
“Segundo as testemunhas, todos biólogos conhecedores da fauna e flora regional e das especificidades do Parque Estadual do Turvo (PET) a partir de estudos científicos já realizados no local, a implementação do empreendimento hidrelétrico Panambi, com a consequente criação do lago artificial para o reservatório, acarretará um afastamento das margens do Rio Uruguai, dificultando ou impedindo a travessia de animais de médio e grande porte a nado de um lado a outro, rompendo o “Corredor Ecológico” que liga o Parque Estadual do Turvo (no Brasil) e o Parque da Biosfera Yaboti (na Argentina), o qual garante a riqueza ambiental e a subsistência de diversas espécies existentes no PET”, sublinhou.
De acordo com Salapata, os especialistas também afirmaram que a tecnologia disponível não seria suficiente para garantir a sobrevivência das populações e espécies atingidas pelo empreendimento. Eles disseram, segundo o juiz, que “as medidas mitigadoras seriam inócuas, porque se cuida de perda de habitat, o que não seria compensável, tampouco existindo área contígua igualmente preservada disponível na região para realocação”.
“As políticas energéticas (e alegação de desenvolvimento econômico) não podem se sobrepujar às leis ambientais protetivas. Há que se conjugar os bens jurídicos. Não é o caso, portanto, de se defender a impossibilidade de implantação do Complexo Hidrelétrico Garabi-Panambi na Bacia do Rio Uruguai, mas de se estabelecerem balizas protetivas mínimas para sua construção, sendo a Unidade de Conservação do Parque do Turvo uma delas, notadamente porque há outras opções tecnicamente viáveis (apresentadas no Inventário Hidrelétrico) que não afetariam a estrutura da UC”, frisou o juiz.
Salapata julgou procedente a ação declarando nulo o Termo de Referência para confecção do EIA-RIMA expedido pelo Ibama e os atos dele derivados. Ele também proibiu o Ibama de dar prosseguimento ao processo de licenciamento ambiental na cota de 130m ou em qualquer outra que importe danos aos Parque Estadual do Turvo. Cabe recurso da sentença ao TRF4.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 5000135-45.2015.4.04.7115/RS

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Carta Aberta da Apedema ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul



Porto Alegre, 13 de julho de 2017

Ao Governador do Estado do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori

Ao Coordenador da Coordenação de Meio Ambiente do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (CAOMA-RS), Dr. Daniel Martini

Prezados Senhores:

Considerando o lançamento do Programa de Incentivo à Pequenas Centrais Hidrelétricas, lançado pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul no Palácio Piratini, em Porto Alegre, neste dia 13 de julho de 2017;
Considerando a inexistência de critérios para o estabelecimento de portes de empreendimentos de geração de energia hidrelétrica para o licenciamento ambiental no Estado do Rio Grande do Sul;
Considerando a recente alteração dos portes referidos anteriormente sem a participação do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Resolução do Conselho de Administração da FEPAM n. 14/2017, do 30 de junho de 2017), resultando em diminuição de porte para o licenciamento de empreendimentos de energia hidrelétricas (empreendimentos de 10 MW, considerados de grande porte, passaram por esta portaria para porte pequeno, e os de 5MW, que eram de médio porte, passaram a mínimo porte);
Considerando que, com a referida Resolução, também ocorreram reduções de valores de arrecadação oriundos de taxas de Licenciamento Ambiental, em alguns casos em até 10 vezes, trazendo prejuízos econômicos ao Estado e aumento de demandas às equipes técnicas da FEPAM;
Considerando que parte importante das matas remanescentes, principalmente matas ciliares e outros ecossistemas naturais no RS, estão restritas justamente às margens dos cursos de água, em Áreas de Preservação Permanente (APPs);
Considerando que existe um número elevado de PCHs planejadas nas bacias dos principais do RS, ou mesmo em cada rio, como no caso da bacia do rio Uruguai (entre RS e SC), onde temos 260 PCHs planejadas e mais 18 UHEs, totalizando 278 empreendimentos hidrelétricos, o que denota que esta situação deveria ser avaliada profundamente do ponto de vista científico e técnico quanto à questionável capacidade de suporte de tal número de empreendimentos[1];
Considerando o fato contraditório em que no Brasil 45% das PCHs estão sendo planejadas sobre as Áreas Prioritárias para a Biodiversidade (Port. MMA n. 9 de 23 de janeiro de 2007), sendo 25% delas na Categoria de Extrema Importância[2], situação preocupante que pode afetar também espécies ameaçadas e comunidades tradicionais e seus modos de vida potencialmente afetados por estes empreendimentos;

Considerando que as Avaliações Ambientais Integradas dos rios no Brasil começaram ser realizadas, de forma inédita, pela SEMA do RS, no início da década de 2000, inclusive com a participação de técnicos da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul;

Considerando o processo de elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Rio Grande do Sul que ainda se encontra inconcluso;
Assim sendo, a APEDEMA vem tecer os seguintes questionamentos quanto ao Programa de Incentivo às Pequenas Centrais Hidrelétricas:
1. Por que não houve deliberação do tema por parte do Consema (Conselho Estadual de Meio Ambiente do Rio grande do Sul) e qual a competência do Conselho de Administração da FEPAM para estabelecer os portes dos empreendimentos?
2. Houve a compatibilidade entre este programa e os planos de bacia hidrográficas?
3. As Áreas Prioritárias para a Biodiversidade e a temática das espécies ameaçadas do RS foram consideradas para a tomada de decisão neste Programa?
4. Como foi estabelecido o Programa de Incentivo às PCHs antes de o Zoneamento Ecológico-Econômico ter sido concluído?
5. Existe um programa governamental de incentivo a energias alternativas com menor impacto ambiental?
6. Como será a destinação da fauna silvestre impactada com as PCHs licenciadas?
7. Como será avaliada a eficiência dos projetos de transplantes e destinação (in situ e ex situ) de flora em empreendimentos hidrelétricos?
8. Quais foram os critérios técnicos adotados para a definição dos trechos de rios que poderiam ser barrados ou afetados por estes empreendimentos hidrelétricos (PCHs) e sua relação sinérgica eventual com o efeito de outras PCHs e UHEs?
9. Foram considerados os impactos sociais e socioculturais relacionados à migração de mão de obra e a temporalidade de empregos às comunidades atingidas pelas obras?
Reiteramos a preocupação da comunidade ambientalista, e requeremos o acesso aos estudos que embasaram a proposta do Programa de Incentivo às PCHs bem como aos técnicos responsáveis por sua elaboração, visando obter as respostas aos questionamentos acima, entre outros.
Atenciosamente,
Coordenação da APEDeMA (2015-2017)




[1] http://viabiodiversa.blogspot.com.br/2016/08/projetos-de-hidreletricas-no-rio.html
[2] http://viabiodiversa.blogspot.com.br/2016/08/projetos-de-hidreletricas-no-rio.html

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Carta da Apedema ao Presidente do COMAM, contestando processo de indicação de ONGs para o COMAM



Em relação a este processo, houve críticas ao Presidência do COMAM, pois o mesmo fez um comunicado ou espécie de edital para que as ONGs se apresentassem em duas semanas, carregadas de um sem número de documentos, sem citar a APEDEMA para a indicação, por um processo complexo e de legalidade questionável, das entidades ambientalistas que fariam parte do COMAM para o período de 2017 a 2019, com nítida ingerência e descaso com o movimento ambientalista e seu histórico de articulação e representação. via a APEDEMA. Segue carta
-----------------------------------------------

Of. Apedema Nº. 06/2017                                                       Porto Alegre, 14 de julho de 2017.
Ao Sr. Maurício Fernandes
Presidente do Conselho Municipal do Meio Ambiente - COMAM
Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade de Porto Alegre

Prezado Senhor:
A APEDEMA (CNPJ 74703026/0001-32), após reunião da sua Coordenação no dia 13 de julho de 2017, vem por meio de sua Coordenação Executiva manifestar-se aqui diante de Comunicado da SMAMS datado de 26 de julho de 2017, assinado pelo Sr. Secretário Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade, Maurício Fernandes, referente à escolha de entidades ambientalistas para o Conselho Municipal do Meio Ambiente.
            Como é de conhecimento do Presidente do COMAM, e também Secretário da SMAMS, que já atuou nesta Secretaria quando da gestão do ex-secretário e ex-vereador Alberto Moesch, inclusive na condição de suplente do então presidente, desde tal época (2005/2009) as indicações das entidades ambientalistas eram e continuaram sendo feitas por esta Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente – APEDEMA/RS.
Esta indicação sempre é precedida de processo interno, por Assembleia Geral (com convocação antecipada de 30 dias), onde por consensos são escolhidas as entidades que manifestavam seu interesse de participar, sempre com a condição de representarem de forma articulada o segmento ambientalista no COMAM, e não representarem a si mesmas, situação provável decorrente do processo referente ao Comunicado da SMAM do dia 27/06, com prazo finalizado para o dia de hoje.
            Esta representação histórica das entidades ambientalistas, aqui reivindicada, já é reconhecida no Regimento Interno do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA do Rio Grande do Sul, onde as entidades ambientalistas são indicadas pela APEDEMA, após Edital de Convocação da respectiva Assembleia Geral. Vale lembrar que no âmbito estadual o tema foi objeto de uma profunda avaliação, resultando a análise na Resolução CONSEMA 102/2005 e no atual Regimento Interno (Resolução CONSEMA 305/2015), confirmando a validade e importância da participação da APEDEMA para indicar as entidades ambientalistas perante os Conselhos de Meio Ambiente.
            Também cabe destacar que o Poder Executivo já indica a maioria dos representantes, a saber, 16 dos 27 membros são indicados por órgãos do executivo, sendo que 8 (oito) membros já são indicados diretamente pelo Prefeito Municipal, assim sendo, consideramos inadequada qualquer tentativa de interferência política do Poder Executivo na escolha soberana das entidades ambientalistas nos colegiados de representação, articuladas pela APEDEMA em um histórico de organização e lutas ambientalistas de mais de 30 anos.
            Ademais, consideramos inadequado o prazo exíguo, a falta de publicidade, a ausência de preocupação em buscar contatos pelo menos com as entidades que historicamente representaram a APEDEMA e o movimento ambientalista e têm se dedicado com empenho e de forma voluntária, inclusive com sacrifícios pessoais, no COMAM.
Estranhamos a falta de retorno da SMAM às entidades ambientalistas no ano de 2017, bem como o silêncio de parte da Prefeitura Municipal de Meio Ambiente à temática ambiental, extinguindo sem debate com a sociedade a Secretaria Municipal de Meio Ambiente mais antiga do Brasil.
Outrossim, consideramos muito grave a interrupção do funcionamento do COMAM por um período de mais de meio ano desde janeiro de 2017, situação inédita que afetou não somente a realização  das Reuniões Plenárias do COMAM, mas também gerou a interrupção inexplicável do funcionamento das Câmaras Técnicas do Conselho e todo um trabalho de árdua dedicação de seus conselheiros para o aperfeiçoamento das Politicas Públicas Ambientais do município de Porto Alegre.
 Esperamos de parte do Presidente do COMAM e Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Porto Alegre que reestabeleça o diálogo com as entidades da APEDEMA e com a coordenação desta, fato historicamente existente entre os demais secretários e o movimento ambientalista porto-alegrense e gaúcho. E protestamos contra a alteração das regras de indicação das entidades ambientalistas realizada de forma unilateral pelo Sr. Secretário, inclusive sem a participação do próprio Conselho Municipal de Meio Ambiente e sem a participação da sociedade civil.
            Vimos, portanto, encaminhar ao Presidente do COMAM de Porto Alegre o resgate da indicação das entidades por parte da APEDEMA, onde se possa cumprir o processo interno de chamada para a Assembleia Geral, com prazo mínimo de 30 dias de convocação, onde são eleitas democraticamente as entidades, como tradição deste COMAM e reconhecimento legal pelo Regimento do CONSEMA, e solicitar, como consequência, o pedido de nulidade do comunicado e dos critérios do certame de indicação individual das entidades, os quais consideramos injustos.
                        Atenciosamente,

Coordenação da APEDEMA do RS

sábado, 1 de julho de 2017

OS FEMINISMOS DIANTE DA CRISE SOCIOECOLÓGICA

Yayo Herrero, apresenta palestra tratando do tema dos feminismos diante da crise ambiental, em um ciclo de debates denominado "Petróleo (3ª sesión), postado pelo Museu de Arte Contemporânea, de Barcelona, no dia 12 de junho de 2017, temas invisíveis diante da lógica produtivista do sistema dominante que desconsidera os limites da natureza.  
Yayo Herrero "Los feminismos ante la crisis socioecológica". Petróleo (3ª sesión)

"A colisão entre a dinâmica expansiva do capitalismo e os limites físicos do planeta mina as bases materiais que sustentam a vida. Mas, a vida humana não somente se sustenta sobre a natureza, seus bens e seus ciclos, mas que o metabolismo social também se sustenta sobre um conjunto de relações que se baseiam nos corpos vulneráveis e finitos, e este sistema de relações também está em crise.


A crise socioambiental é também uma crise de identidade, e põe em questão as noções de ser humano, de progresso e de emancipação que se poderiam qualificar de fossilistas. O feminismo, historicamente, tem chamado a atenção sobre como esta noção de pessoa se construía sobre a subordinação das mulheres, porém não tem relacionado suficientemente sua crítica com a evidente inserção da vida humana na natureza. O ecofeminismo aporta luz nesta direção e obriga a elaborar novas novas reflexões dentro de ambos movimentos."

segunda-feira, 22 de maio de 2017

O Dia 22 de Maio e as ameaçadas à Biodiversidade do RS

             No dia 22 de maio comemora-se o Dia Internacional da Biodiversidade. Paradoxalmente, no Mundo, no Brasil e no Rio Grande do Sul o quadro é dramático, como veremos a seguir. Estamos entrando num processo que a Ciência chama de Sexta Extinção em Massa[1], que se refere ao desaparecimento de espécies silvestres num ritmo de equivalente ao que ocorreu há muitos milhões de anos. Entretanto, agora, o fenômeno de perda de espécies é resultado de uma economia hegemônica que agride o meio ambiente. Ocorrem alterações inéditas sobre o ciclo da água, sobre os gases da atmosfera e sobre o solo. Vivemos mudanças climáticas nunca vistas na história, com aumento de secas e enxurradas, em decorrência do incremento da liberação de gases de efeito estufa, e assistimos ameaças à funcionalidade ecológica nos sistemas naturais, agrícolas e também urbanos, com comprometimento da qualidade de vida, não somente humana. No Dia da Biodiversidade, cabe alertar para estas perdas e, por outro lado, enaltecer a vida diversa e com equilíbrio necessário, em todos os espaços. 

No Brasil, o Art. 225 da Constituição Federal assegura que é vedada qualquer atividade que coloque em risco de ameaça de extinção de espécies de flora e fauna, determinando a necessidade de se preservar a diversidade biológica e de se proteger e restaurar os processos ecológicos essenciais. Na prática, constata-se uma situação inversa. Com relação às espécies ameaçadas, no mundo, já foram extintas mais de 450 espécies de animais devido às atividades humanas[2]. Entre 2008 e 2014, a Lista Oficial da Flora Ameaçada do Brasil aumentou 448% no número de espécies em extinção. Quanto à fauna brasileira, houve um crescimento em 65% no número de espécies ameaçadas, entre 2003 e 2014.
Da mesma forma, os esforços de conservação parecem insuficientes diante da acelerada perda dos ecossistemas de cada bioma brasileiro. Afora a perda de território original, os mais afetados são os povos indígenas e as comunidades tradicionais e locais. Os processos econômicos transformam ao extremo a natureza, acumulando e concentrando riquezas para poucos, por meio de atividades agrícolas (monoculturas), urbanas ou industriais.
Entre os seis biomas oficiais brasileiros do IBGE (2004), três deles apresentam maiores índices de perdas/conversão do uso do solo:  Mata Atlântica (93%), Pampa (63%) e Cerrado (55%). Os demais, Caatinga, Pantanal e Amazônia apresentam crescimento de degradação e ataques a sua sociobiodiversidade, porém mantêm, todavia, mais de 50% de sua cobertura original. No caso da Amazônia, o desmatamento cresceu 75%, entre 2012 (4.571 km2) e 2016 (7.989 km2) (Figura 1), coincidindo com a aprovação da Lei n. 12.651/2012 (novo “Código Florestal”), que anistiou quem desmatou até 22 de julho de 2008.


O grande motor dessa conversão e degradação de nossos biomas é o modelo de economia baseado na concentração de terras e na exportação de commodities, com destaque às matérias primas que representam baixo valor agregado e demandam grande escala de áreas de monoculturas agrícolas, principalmente grãos (vide Planos Safra, com 200 bilhões de reais para a agricultura empresarial), incentivo à megamineração ou a empreendimentos hidrelétricos, para gerar energia à uma economia de baixíssima eficiência ecológica, grande entropia e grandes impactos socioambientais (agro-hidro-mineronegócio).
No que toca às hidrelétricas, verificamos que 62% desses empreendimentos de alto impacto ambiental no Brasil[3] estão sendo construídos e planejados justamente com incidência no Mapa das Áreas Prioritárias para a Biodiversidade (Port. 9/2007, do Ministério de Meio Ambiente)[4] (Figura 2), sendo 26% em áreas de “Extrema Importância”. A mineração também atinge essas áreas prioritárias, situação hoje ilustrada pelo Projeto Caçapava do Sul da empresa Votorantim, em processo de licenciamento junto à FEPAM, implicando em potenciais riscos de metais pesados sobre a saúde humana e animal, ou pela degradação sobre a paisagem e a biodiversidade como um todo da bacia do rio Camaquã, no bioma Pampa.
Figura 2 - Áreas Prioritárias para a Biodiversidade (MMA, 2007)
No Brasil, onde foi incorporado um modelo econômico e ecológico disfuncional, promove-se uma verdadeira guerra contra a biodiversidade. Aumenta a degradação ambiental no campo - pela agricultura empresarial – acarretando também o uso crescente de agrotóxicos e outros insumos tóxicos. O Brasil tornou-se o maior consumidor mundial de agrotóxicos, com uso anual de mais de 1 bilhão de litros de agrotóxicos, a partir de 2009[5]. E, não por coincidência, a Região do Arco do Desmatamento da Amazônia concentrou o maior número relativo de homicídios no campo na década passada[6] (Figura 3). Por outro lado, cabe lembrar que essa agricultura empresarial não produz necessariamente comida, já que 2/3 dos alimentos vêm da agricultura familiar, onde existe maior diversificação e biodiversidade.

Figura 3 - Taxa de Homicídios Relativos no Brasil com concentração na Região do Arco do Desmatamento da Amazônia

No tocante aos esforços para enfrentar o presente quadro em nível mundial, segundo o Panorama da Biodiversidade Global n. 5 (Convenção da Diversidade Biológica, ONU, 2005)[7], cerca de 90% dos indicadores apontam sinais de não cumprimento de Metas da Biodiversidade (Metas de Aichi 2011-2020) propostas em acordos da CDB (Figura 4), sendo 28% com retrocessos ou nenhum avanço significativo, com o restante, 62%, correspondendo a um ritmo insuficiente para alcançar a meta até o prazo limite. A situação de fracasso parece se repetir em relação ao relatório anterior, de 2010[8], em que o próprio ex-secretário da ONU admitiu que "a degradação da diversidade se acelera no mundo", complementando que "a meta para 2010 não foi alcançada" e as “causas continuam sendo as mesmas”. Ban Qui Moon acabou reconhecendo que “esses esforços são, muitas vezes, prejudicados por políticas conflitantes. Para combater as causas originais da perda de biodiversidade, temos que dar-lhe maior prioridade em todas as áreas de tomadas de decisão e em todos os setores econômicos”[9].
Figura 4 - Segmento das Metas da Biodiversidade 2020 - Panorama Biodiversidade n. 4 (ONU, 2015)

No Brasil, atualmente, a economia está na mão de um governo ilegítimo, que sofre fartas acusações de corrupção, sendo dominado por agentes serviçais do mercado, das commodities, da concentração de terras, do trabalho escravo e que progressivamente tenta retroceder nas leis e nos direitos socioambientais e criminalizar os movimentos sociais.
No Estado do Rio Grande do Sul, a política de retrocessos é a mesma. E as consequências podemos verificar, brevemente, analisando a situação da biodiversidade da Mata Atlântica e do Pampa. A Mata Atlântica abrange cerca de 37% do território do Estado, restando 7,9% de sua cobertura original[10]. No Pampa, com 63% do território do RS (restrito à Metade Sul e ao Litoral), as estimativas mais recentes do MMA (2010) dão conta de restar 36,03% de cobertura original[11]. Cabe destacar que a Lei da Mata Atlântica (Lei n. 11.428/2006) avançou no Estado devido, em parte, aos esforços do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (CERBMA-RS), que trata de um patrimônio da UNESCO. O CERBMA é um espaço privilegiado de construção de políticas públicas, que se reúne todos os meses na SEMA, mas, atualmente, vem sendo atacado em sua autonomia, começando pela iniciativa do governo da retirada dos técnicos da Fundação Zoobotânica do RS (FZB) das representações deste e dos demais Conselhos, o que corresponde a retrocessos somente explicados - mas não justificados - em se transformar espaços técnicos e democráticos de Estado, na formulação de Políticas Públicas, em espaços políticos e autoritários de governo.
No que se refere às Unidades de Conservação, o Rio Grande do Sul apresenta somente 2,6% de seu território coberto por UC’s, o que contrasta com as Metas de Biodiversidade, que preveem 17% dos territórios cobertos por áreas protegidas. De qualquer maneira, as UC’s deveriam ser polos de emanação de práticas sustentáveis em seu entorno, prevendo-se corredores entre essas e outras áreas naturais e protegidas, o que infelizmente não vem sendo feito. No atual milênio, consta que somente uma UC Estadual foi criada, e houve retrocessos como a redução e desafetação do Parque Estadual Delta do Jacuí. O novo Zoneamento Ecológico-Econômico do RS deve levar em conta esse déficit e incorporar a proteção de áreas representadas pelas APBio (MMA, 2007) e tratar de novas áreas potenciais prioritárias para se atingir os 17% do território do Estado (Figura 5), contemplando-se também as Zonas da RBMA e áreas com monumentos naturais e/ou endemismos de flora e fauna (ocorrências territoriais restritas).
Figura 5 - Áreas Prioritárias para a Biodiversidade (Port. MMA, n. 9/2007), UCs e Áreas do RS Biodiversidade
Na Mata Atlântica, além do histórico avanço incontrolável do agronegócio de grãos e de silvicultura sobre seu território, ocorre uma vulnerabilidade ainda maior provocada pelo processo precário de licenciamento ambiental municipal sobre remanescentes da vegetação nativa. Tal processo deveria exigir maior controle por parte da SEMA, do Ibama e do Ministério Público Estadual e Federal a fim de evitar que municípios despreparados atuem sozinhos no licenciamento de impactos sobre a biodiversidade.
Nos rios da Mata Atlântica, além da poluição descontrolada, sofremos o incremento de empreendimentos hidrelétricos de forma indiscriminada. Segundo dados obtidos na Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), somente na bacia do rio Uruguai[12] temos hoje 278 empreendimentos previstos, sendo 18 usinas hidrelétricas (UHE) com mais de 30 MW e 260 pequenas centrais hidrelétricas (PCH), a maior parte no RS.
No Pampa, a situação é dramática, pela ausência de áreas protegidas pelo poder público no centro do bioma exclusivo de nosso Estado. Aproveitamos para destacar que as novas UC’s e outras formas de proteção, incluindo práticas como pecuária familiar sustentável, como turismo rural e ecológico, estavam sendo encaminhadas principalmente pelo projeto RS Biodiversidade, que deveria ser retomado. Nesse sentido, destacamos a importância do Projeto Pastizales, integrado entre FZB, SEMA, EMATER, Embrapa, Universidades e setor produtivo do Campo, em especial da Pecuária Familiar.  No tocante ao Pampa, não existe um Comitê, como no bioma Mata Atlântica. Cabe ressaltar a urgente necessidade de aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) n. 5/2009 que tornaria o Pampa, juntamente com Caatinga e Cerrado, Patrimônios Nacionais como parte do Art. 225 da Constituição, o que daria maior amparo à proteção destes biomas.
Quanto à evolução da perda da biodiversidade, no que se refere às espécies de flora (Figura 6) e fauna, no RS, a Lista da Flora Ameaçada de Extinção, que contabilizava no Decreto n. 42.099/2002 um total de 607 espécies, subiu para 804 (Decreto n. 52.109/2014), representando um incremento de plantas ameaçadas em 33%. A Lista da Fauna Ameaçada de Extinção do RS, entre 2002 e 2014, também teve incremento no número de espécies, porém em níveis menores (7,3%).
Figura 6 - Ari Nilson, técnico com mais de 42 anos de trabalho em prol da conservação das plantas nativas do RS, coletas de sementes e Mudário. Se depender do governado do Estado, será demitido e seu conhecimento jogado fora, por um Estado "moderno", quiçá Abiótico....  
De certa forma, mesmo com a perda de remanescentes nos dois biomas, o atual governo do Estado vem trazendo maior fragilização da proteção à natureza, inclusive com maior insegurança jurídica ao próprio setor produtivo, por meio de Decretos e Leis inconstitucionais. Em grande parte, essas tentativas foram derrotadas por ações de iniciativa do Ministério Público devido a ilegalidades flagrantes e retrocessos. Em 2015, a Justiça suspendeu a eficácia do Decreto Estadual n. 52.310/2015, que retirou espécies marinhas da lista da fauna ameaçada de extinção[13]. No mesmo ano, também a Justiça decidiu pela ilegalidade do Decreto Estadual n. 52.431/2015 que diminuía a proteção da Reserva Legal do Pampa[14]. Outra situação constrangedora para o governo e para a FEPAM/SEMA foi ter que acatar recomendação do Ministério Público Estadual (MPE) que suspendeu o processo de licenciamento para mineração de areia no rio-lago Guaíba[15]
Infelizmente, no final de 2016, o governo submeteu, em regime de urgência na Assembleia Legislativa, o PL n. 145 que visava flexibilizar o licenciamento de plantios comerciais de monoculturas de pequeno e médio porte de eucalipto, pinus e acácia-negra. Mais uma vez, não houve oportunidade de discussão deste PL com a sociedade, e o mesmo foi aprovado a fim de atender os poderosos setores da silvicultura no Estado. Os resultados esperados são ainda mais nefastos à manutenção do pouco que resta de nossos ecossistemas naturais, pois se tratam de espécies de árvores exóticas invasoras [16]. 
No que se refere à gestão contrária à área ambiental, cabe lembrar que em 2015 a Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente (APEDeMA-RS) alertava para o desmonte dos órgãos ambientais e da política ambiental no início do Governo Sartori, manifestando insatisfação com a escolha da contadora Ana Maria Pellini como secretária da pasta de Meio Ambiente, por já ter sido responsabilizada a pagar indenização em processo de assédio moral contra funcionário da FEPAM[17] e por não ter o “perfil mínimo de formação na área”. Além disso, a APEDeMA-RS cobrava os resultados efetivos de melhorias à secretaria, que teve seu nome modificado sem nenhuma discussão para Secretaria Estadual de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, após a Operação Concutare[18], cobrando a revisão de licenças ilegais, punição dos responsáveis, mecanismos de controle interno, transparência externa, fortalecimento e valorização do papel do CONSEMA para as políticas ambientais do RS[19].
Ainda no ano 2015, o governo tentou extinguir a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB), por meio do PL n. 300/2015, entretanto a mobilização forte da população gaúcha, e de instituições brasileiras e estrangeiras, fez o governo recuar momentaneamente. Porém, em novembro de 2016 veio um retrocesso maior, por meio do PL n. 246/2016 (hoje Lei n.14.982/2017[20]), que tramitou em regime de urgência, e que visava a extinção da FZB e outras oito fundações estaduais. No final de dezembro de 2016, o projeto foi votado e aprovado às pressas, com a chancela de 30 deputados da base do Governo Sartori, contra 23 votos (Figura 7). A extinção, portanto, foi autorizada, mas não implementada de todo, ameaçando a Fundação responsável pelo Museu de Ciências Naturais (61 anos), Jardim Botânico (57 anos) e Parque Zoológico (54 anos). Os sindicatos dos servidores das fundações apelaram à Justiça do Trabalho que considerou irregular a demissão sumária dos funcionários do quadro das Fundações.
Figura 7 - Os responsáveis pela votação em favor da extinção da FZB, no apagar das luzes de 2016. 


Quanto a esta iniciativa de extinção da FZB, supostamente de caráter econômico, que representaria um corte de apenas 0,04% dos gastos anuais do orçamento do Estado, consideramos profundamente anticonstitucional[21] a Lei Estadual n. 14.982/2017 que extingue a FZB e outras Fundações. O Estado não pode abrir mão de seus compromissos com a Biodiversidade, o Meio Ambiente e a Ciência (Anexo 1). Trazemos aqui, por exemplo, a importância das coleções ex situ de flora (Jardim Botânico) e de fauna (Parque Zoológico) e as coleções científicas únicas no Estado (Museu de Ciências Naturais). Cabe lembrar que ninguém melhor do que a FZB para realizar a gestão da flora e fauna, além do compromisso de reavaliação periódica das listas de flora e de fauna ameaçadas (Decretos n. 51.797/2014 e n. 52.109/2014), cabendo essa função à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Esta é a única que possui especialistas em taxonomia (taxonomistas) e em áreas específicas de conservação da biodiversidade, concursados para isso, não sendo substituíveis pelo restante plantel da área técnica da SEMA. A Lista da Flora, que deveria ser encaminhada já em 2015 para serem complementados os estudos e com previsão de republicar o novo Decreto ainda em dezembro de 2018, não teve o andamento necessário por parte da gestão da SEMA.
No que toca à relação de trabalho, cabe também assinalar e denunciar o tratamento desumano por que passam os técnicos da FZB por parte dos gestores governamentais, situação de fragilidade que não é muito diferente por que passam outros técnicos da SEMA. Existem muitos relatos de ameaças e forma arbitrária de tratamento por parte de gestores da área ambiental, chegando a casos de assédio moral, pela forma de relação de subalternidade da(s) chefia(s), que não promovem nenhum diálogo interno; fato talvez explicado por se tratar de administradores exógenos e desconhecedores da área ambiental.  
Consideramos que a FZB, muitas vezes articulada com a FEPAM e DBio (Departamento de Biodiversidade da SEMA), teve um papel histórico importantíssimo e de integração de conhecimentos e proposições para a delimitação do Mapa das Zonas Núcleo, de Transição e de Amortecimento da RBMA, o Zoneamento Ambiental da Silvicultura (ZAS), para as Avaliações Ambientais Integradas do rio Taquari Antas e rio Ijuí, para o Zoneamento dos Parques Eólicos, para os projetos RS Biodiversidade (GEF e Banco Mundial) e Projeto Mata Atlântica (KFW), dos Planos de Manejo das Unidades de Conservação do Estado, entre outros. 
O Estado do Rio Grande do Sul necessita do conhecimento da FZB a fim de realizar avaliação da qualidade ambiental, da capacidade de suporte ambiental de empreendimentos ou atividades, que dá subsídios para o licenciamento e a gestão ambiental qualificada do potencial sinérgico desses sobre a biodiversidade e a qualidade de vida como um todo. Sem a Fundação Zoobotânica estaremos descumprindo a Constituição Federal e Estadual e deixando a desejar em licenciamento, ou melhor, poderemos deixar margem para um licenciamento parcial (“licenciamento no escuro”), carente de conhecimentos necessários e completos. Ou seja, sem a base de dados necessária da biodiversidade para predizermos as consequências futuras de determinadas atividades - em geral progressivamente degradadoras - os empreendimentos e/ou atividades poderão ser contestados, inclusive na Justiça.
A capacidade de suporte de atividades como a silvicultura, exemplarmente avaliada pelo ZAS, acompanhadas pela FEPAM e SEMA, durante anos, deveria ser estendida a outras atividades como a cultura de soja, que avança sem parar sobre o Pampa e os Campos de Altitude.
Importante destacar, também, que o Rio Grande do Sul apresenta um importante instrumento público representado pelo Plano Estadual de Agroecologia e de Produção Orgânica (PLEAPO[22]), sob a coordenação da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), plano este que muito tem em avanços necessários em incorporar nossa biodiversidade na alimentação e diversificação econômica. Neste caminho pela sustentabilidade socioambiental, não podemos esquecer da necessária valorização das sementes crioulas, das plantas alimentícias nativas e espontâneas (frutas e hortaliças), das pequenas criações, inclusive de abelhas sem ferrão, que deveriam ter programas com plantas carro-chefe, como a araucária, o butiá, a juçara, a erva-mate, as plantas medicinais, as forrageiras nativas e outras centenas de espécies de importância estratégica no RS.
Assim sendo, neste dia 22 de Maio, Dia da Biodiversidade, a fim de se atender aos preceitos de sustentabilidade da vida diversa, nos âmbitos estadual, nacional e mundial (Metas da Biodiversidade para 2020 - Metas de Aichi), trazemos, por  parte das entidades abaixo assinaladas, as principais demandas, muitas delas urgentes:
1-      Nenhum retrocesso ambiental, lembrando-se sempre das conquistas obtidas na Constituição Federal - que em seu Art. 225 trata do direito ao meio ambiente, e com destaque à biodiversidade, definido especialmente pela a proteção da fauna e da flora, onde são vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies - e atenção à Constituição Estadual, que ressalta as obrigações do Estado com relação à manutenção e avanços das Políticas Públicas em Biodiversidade;
2-      Interrupção do processo de extinção da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, pelo fato da inconstitucionalidade da nova Lei e pela consideração de se tratar da instituição insubstituível na área de Biodiversidade do Estado do Rio Grande do Sul, exigindo fortalecimento e retorno de seu papel de principal esteio às politicas publicas nessa área;
3-       Reconhecer os direitos dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, desde a Convenção da OIT 169, a Constituição Federal e as Leis de proteção e promoção dessas populações, contra os retrocessos e tentativas de criminalização;   
4-      Reconhecer a Territorialidade Protetiva e a Vocação das Ecorregiões do Rio Grande do Sul, inclusive no Zoneamento Ecológico Econômico, com base nas Áreas Prioritárias para a Biodiversidade (Port. MMA n. 09/2007), na Zona Núcleo e demais zonas da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica;
5-      Investimento em aquisição de novas áreas para Unidades de Conservação, em especial de uso sustentável no bioma Pampa e Mata Atlântica;
6-      Incentivos para as Agroflorestas e Agroecologia (reconhecimento da importância do PLEAPO, tanto na Mata Atlântica como no Pampa, aqui em especial a Pecuária Familiar, com fortalecimento de redes de conhecimento locais integrados às instituições de pesquisa e extensão técnico-científicas sobre significados de usos sustentáveis e conservação da biodiversidade;
7-      Retomada urgente dos compromissos dos Decretos n. 51.797/2014 e n. 52.109/ 2014, que preveem a reavaliação das Listas da Flora e Fauna Ameaçadas de Extinção no Rio Grande do Sul;
8-      Aprovação da PEC n. 5/2009, que inclui no Art. 225 da Constituição Federal, na categoria de Patrimônio Nacional, o Bioma Pampa, a Caatinga e o Cerrado;
9-      Revisão de todos os incentivos econômicos que possam recair contra nossa sociobiodiversidade, em especial sustar financiamentos de atividades degradadoras - como no caso da expansão sem limites das monoculturas de soja sobre o Pampa e Campos de Altitude, Hidrelétricas, Carvão Mineral, entre outras - sobre as Áreas Prioritárias da Biodiversidade.
10-  Que os cargos de direção da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e da Fundação Zoobotânica do Rio grande do Sul sejam preenchidos por pessoas com perfil técnico gabaritado e compativel com a área, apresentando histórico de preocupação com o Meio Ambiente, espirito público, grandeza e diálogo com os servidores.
Assinam
- APEDeMA-RS - Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente
- AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural
-  Amigos da Terra  Brasil (NAT/Brasil)
- Associação de Funcionários da Fundação Zoobotânica do RS
- ASSEMA – Associação dos Servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente/RS
- Coletivo Cidade Que Queremos
- Fórum Justiça
- Fundação Luterana de Diaconia
- INGÁ - Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais
- Instituto Mira Serra
- Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente – MOGDEMA
- MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
- Núcleo de Ecojornalistas do RS
- Rede Nacional De Advogadas E Advogados Populares
- SEMAPI - Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande Do Sul
- UPAN - União Protetora Do Ambiente Natural






[22] http://www.crn2.org.br/crn2/noticias/rio-grande-agroecologico-se-baseia-na-producao-de-alimentos-saudaveis

Anexo 1 - Ver legislação que ampara as funções essenciais da FZB
EXTRATO PRELIMINAR DE LEIS ESPECÍFICAS REFERENTES AO PAPEL DA FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RIO GRANDE DO SUL
(OBS. em vermelho são destacadas atividades exclusivas da FZB, em negrito escuro atividades compartilhadas - )

CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL
Art. 251. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo, preservá-lo e restaurá-lo para as presentes e futuras gerações, cabendo a todos exigir do Poder Público a adoção de medidas nesse sentido.
(Vide Leis n. 9.519/92 e 11.520/2000) § 1.º Para assegurar a efetividade desse direito,  o Estado desenvolverá ações permanentes de proteção, restauração e fiscalização do meio ambiente, incumbindo-lhe, primordialmenteII - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais, obras e monumentos artísticos, históricos e naturais, e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, definindo em lei os espaços territoriais a serem protegidos; [...]
IV - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente; [...]
VI - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético contido em seu território, inclusive mantendo e ampliando bancos de germoplasma, e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e à manipulação de material genético;
VII - proteger a flora, a fauna e a paisagem natural, especialmente os cursos d’água, vedadas as práticas que coloquem em risco sua função ecológica e paisagística, provoquem extinção de espécie ou submetam os animais a crueldade;
(Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 38, de 12/12/03)
Lei 9519/1992 – CÓDIGO FLORESTAL ESTADUAL
Art. 3º - São objetivos específicos da política florestal do Estado:
[...] X - identificar e monitorar as associações vegetais relevantes, espécies raras ou endêmicas e ameaçadas de extinção, objetivando sua proteção e perpetuação;
XI - implantar um banco de dados que reúna todas as informações existentes na área florestal [entendendo-se florestas e campos como ecossistemas naturais];
Art. 35º - O órgão florestal competente [hoje o DBIO da SEMA] deverá proibir ou limitar o corte das espécies vegetais consideradas em via de extinção, raras ou endêmicas [requer apoio técnico da FZB], delimitando as áreas compreendidas no ato. Parágrafo único - O órgão florestal competente [requer apoio técnico da FZB] deverá divulgar relatório anual e atualizado das espécies raras ou endêmicas e ameaçadas de extinção.
Art. 42 - Para os fins previstos nesta Lei entende-se por
[...] II - espécie ameaçada de extinção: espécie em perigo de extinção, cuja sobrevivência é improvável, se continuarem operando os fatores causais. Inclui populações reduzidas em níveis críticos e habitats drasticamente reduzidos;
III - espécie rara ou endêmica: espécie de ocorrência limitada a certos ambientes ou com auto-ecologia restrita a um habitat específico (o mesmo que endemismo);
---------------
Lei 11.520/2000 – CÓDIGO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE
Art. 158 - O Estado manterá e destinará recursos necessários para os órgãos de pesquisa e de fiscalização dos recursos naturais.
Art. 160 - O Estado, através dos órgãos competentes, fará e manterá atualizado o cadastro da flora, em especial das espécies nativas ameaçadas de extinção.
Art. 166 - A política sobre a fauna silvestre do Estado tem por fim a sua preservação e a sua conservação com base nos conhecimentos taxonômicos, biológicos e ecológicos
Art. 167 - Compete ao Poder Público em relação a fauna silvestre do Estado:
 I - facilitar e promover o desenvolvimento e difusão de pesquisas e tecnologias;
II - instituir programas de estudo da fauna silvestre, considerando as características sócio-econômicas e ambientais das diferentes regiões do Estado, inclusive efetuando um controle estatístico; (pag 77)
III - estabelecer programas de educação formal e informal, visando à formação de consciência ecológica quanto a necessidade da preservação e conservação do patrimônio faunístico;
VI - instituir programas de proteção à fauna silvestre;  VII - identificar e monitorar a fauna silvestre, espécies raras ou endêmicas e ameaçadas de extinção, objetivando sua proteção e perpetuação; 
VIII - manter banco de dados sobre a fauna silvestre; 
IX - manter cadastro de pesquisadores, criadores e comerciantes que de alguma forma utilizem os recursos faunísticos do Estado; 
X - manter coleções científicas museológicas e “in vivo” de animais representativos da fauna silvestre regional, assim como proporcionar condições de pesquisa e divulgação dos resultados da mesma sobre este acervo;

DECRETO EST. 52.109/2014 E O DECRETO EST. 51.797, DE 08/2014, definem as Listas da Flora Ameaçada do RS e a  Lista da Fauna Ameaçada do RS.  O Art. 4 dos dois Decretos é muito semelhante, destacando-se aqui o referente à fauna ameaçada - que define quea reavaliação periódica da lista ficará sob a responsabilidade da Secretaria do Meio Ambiente, a qual, após consulta às universidades e instituições de pesquisa em biodiversidade, constituirá Comissão Técnica formada por renomados especialistas em fauna, com conhecimento e experiência de campo no Estado do Rio Grande do Sul, para, sob a coordenação da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Parágrafo único.
A Comissão Técnica será designada pelo Secretário de Estado do Meio Ambiente e desdobrar-se-á, minimamente, nos seguintes grupos temáticos: I - mamíferos; II -aves; III - répteis; IV- anfíbios; V-peixes; e VI -invertebrados
Decreto Estadual 51.109/2014, Lista da Flora Ameaçada do RS,
Art. 4º - A reavaliação da lista ficará sob a responsabilidade da Secretaria do Meio Ambiente, a qual a cada quatro anos, após consulta à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul - FZB, às universidades e às instituições de pesquisa em biodiversidade constituirá Comissão Técnica formada por renomados especialistas em flora, com conhecimento e experiência de campo no Estado do Rio Grande do Sul, para, sob a coordenação da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul: I – definir o roteiro metodológico a ser adotado na revisão da lista, garantindo o aprimoramento dos procedimentos e mantendo critérios técnico-científicos compatíveis com os padrões internacionalmente reconhecidos; II – coordenar tecnicamente o processo de reavaliação do estado de conservação das espécies da flora do Estado do Rio Grande do Sul; III – manter a base de dados atualizada com informações relevantes à avaliação do estado de conservação das espécies, tais como a localização e o mapeamento dos registros, a ocorrência em Unidades de Conservação, principais ameaças e ações de conservação recomendadas.
Art. 7º diz que: Compete à Secretaria do Meio Ambiente:
I - estabelecer medidas urgentes para a conservação das espécies constantes dos Anexos deste Decreto, em especial as das categorias CR e EN, promovendo a articulação de ações com institutos de pesquisa, com universidades, com órgãos estadual e federal que tenham por objetivo a investigação científica e a execução de programas de pesquisa, de proteção, de preservação e de conservação da biodiversidade;
II - dar ampla publicidade às listas publicadas em anexo, promovendo a sua divulgação junto às instituições afetas ao tema da conservação da natureza e à população em geral;
 III - estimular a elaboração de políticas integradas de controle e de fiscalização ambiental, incluindo as esferas municipal e federal, no sentido de monitorar e de coibir o tráfico e a extração ilegal de espécies da flora nativa ameaçada;”.
IV - enviar ao Centro Nacional de Conservação da Flora – CNCFlora, a lista constante nos Anexos deste Decreto, para auxiliar nas futuras revisões da Lista Oficial de Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora Brasileira.
Art. 168 - São instrumentos da política sobre a fauna silvestre:
 I - a pesquisa sobre a fauna;
II - a educação ambiental;
 III - o zoneamento ecológico;
IV - o incentivo à preservação faunística;
V - o monitoramento e a fiscalização dos recursos faunísticos;
VI - a legislação florestal do Estado do Rio Grande do Sul;
VII - as listas de animais silvestres com espécies raras ou ameaçadas de extinção e endêmicas;
VIII - programas de recuperação e manutenção dos “habitats” necessários à sobrevivência da fauna;
 IX - as Unidades de Conservação;
X - o licenciamento ambiental.

Art. 169 - O Poder Público promoverá a elaboração de listas de espécies da fauna silvestres autóctone, que necessitem cuidados especiais, ou cuja sobrevivência esteja sendo ameaçada nos limites do território estadual.
Art. 176 - O Poder Executivo Estadual incentivará e regulamentará o funcionamento de Centros de Pesquisa e Triagem Animal, com a finalidade de receber e albergar até sua destinação final, animais silvestres vivos, provenientes de apreensões ou doações.
Art. 183 - Os elementos constitutivos do Patrimônio Ambiental Estadual são considerados bens de interesse comum a todos os cidadãos [citados na Lei 246/2016], devendo sua utilização sob qualquer forma, ser submetida às limitações que a legislação em geral, e especialmente esta lei, estabelecem.
Art. 184 - O Poder Público deverá manter bancos de germoplasma [coleções ex situ no JB, ZOO e MCN, serpentes?] que preservem amostras significativas do patrimônio genético do Estado, em especial das espécies raras e das ameaçadas de extinção.
Art. 185 - Compete ao Estado a manutenção da biodiversidade pela garantia dos processos naturais que permitam a conservação dos ecossistemas ocorrentes no território estadual.
Art. 186 - Para garantir a proteção de seu patrimônio genético compete ao Estado:
 I - manter um sistema estadual de áreas protegidas representativo dos diversos ecossistemas ocorrentes no seu território;
II - garantir a preservação de amostras dos diversos componentes de seu território genético e de seus habitantes. (pag 81)

CAPÍTULO VIII - Do Patrimônio Paleontológico e Arqueológico
Art. 187 - Constitui patrimônio paleontológico e arqueológico, estes definidos pela Constituição e legislação federais, o conjunto dos sítios e afloramentos paleontológicos de diferentes períodos e épocas geológicas, e dos sítios arqueológicos, pré-históricos e históricos de diferentes idades, bem como todos os materiais desta natureza, já pertencentes a coleções científicas e didáticas dos diferentes museus, universidades, institutos de pesquisa, existentes no território estadual.
Art. 188 - Compete ao Estado a proteção ao patrimônio paleontológico e arqueológico, objetivando a manutenção dos mesmos, com fins científicos, culturais e sócio-econômicos impedindo sua destruição na utilização ou exploração.
Art. 189 - Para garantir a proteção de seu patrimônio paleontológico e arqueológico, compete ao Estado:
 I - proporcionar educação quanto à importância científica, cultural e sócio- -econômica deste patrimônio;
III - prestar auxílio técnico e financeiro a museus e instituições científicas para adequada preservação do material fóssil e arqueológico;
IV - cadastrar os sítios arqueológicos e paleontológicos e as áreas de sua provável ocorrência, em todo o Território Estadual, dando prioridade aos existentes em Unidades de Conservação.
---
Como exemplo da impossibilidade de cumprimento dos preceitos constitucionais e legais, mesmo com a eventual extinção da Fundação Zoobotânica, vejamos o exemplo do Art. 158 do Código de Meio Ambiente, Lei 11.520/2000: "Art. 158 - O Estado manterá e destinará recursos necessários para os órgãos de pesquisa e de fiscalização dos recursos naturais" .

- Situação atual, com a FZB, a fim de atender o art. 158 (Lei 11.520/2000): Atualmente a FZB, por meio do Museu de Ciências Naturais, Jardim Botânico e Zoológico, mantém estudos e pesquisas taxonômicas, biológicas e ecológicas fundamentais tanto básicas como aplicadas com flora, fauna e outros grupos de organismos, inclusive bioindicadores, realiza estudos para elaboração e planos de Manejo de Unidades de Conservação, com corpo técnico gabaritado, formado por especialistas e pessoal técnico, inclusive taxonomistas, com alta experiência nos grupos de vegetais e animais silvestres e coleções científicas. A FZB obtém recursos para pesquisa do CNPq e FAPERGS e organismos internacionais para dar sequência às pesquisas em biodiversidade e coleções científicas.

- Situação hipotética de incorporação das atividades da FZB pela SEMA a fim de atender o art. 158 (Lei 11.520/2000): A Sema sozinha não dispõe de taxonomistas que entendam dos grupos de flora e fauna, nem de pesquisadores com perfil para coleções científicas. Sem a instituição, dificilmente teria condições de obter recursos externos em projetos, como existe hoje, para manter a expertise na área. Sem a FZB, atuaria de forma restrita na fiscalização.

- Situação hipotética de substituição dos serviços hoje executados pela FZB por Consultorias, a fim de atender o art. 158 (Lei 11.520/2000):
Os consultores, em contratos temporários, muito dificilmente terão a experiência dos técnicos especialistas nos grupos de flora, fauna e outros organismos. Cabe lembrar que a eventual terceirização na saúde comprovou-se um altíssimo risco de descontinuidade de serviços, pois o Estado tem fragilidades contratuais enormes e alega dificuldades de pagamento de serviços, trazendo enorme insegurança aos serviços essenciais previstos nas Constituições Federal e Estadual.