quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Realizada a reconstituição dos casos de desaparecimento e morte de trabalhadores da Papeleira Laja, da CMPC, em 1973 (sul do Chile)



Há 41 anos, no dia do Golpe Militar no Chile, 19 pessoas (sendo 14 trabalhadores da CMPC), mais 5 pessoas, entre estudantes e professores, da cidade de Laja, no sul do Chile, foram chacinados e investigações foram retomadas nas últimas semanas e, com elas, se denuncia cumplicidade da empresa CMPC naquele país.

Matéria de El Clarin de Chile

Maria Eliana Vega (5 de setembro de 2014)
foto El Clarin de Chile
Uma nova reconstituição dos acontecimentos que culminaram com a detenção e morte de mais de uma dúzia [14] de trabalhadores da Papeleira Laja, da CMPC, foi realizada nesta quinta-feira por Carlos Aldana, ministro em visita para causas de direitos humanos, que realizou diligências no juizado local, no interior da área da papeleira e em um terreno diferente de onde se praticou a primeira reconstituição, em agosto de 2011.

Desta vez, o ministro Aldana procurava investigar a participação de civis na detenção dos trabalhadores que foram executados logo após o golpe militar de 11 de setembro de 1973.

Ele realizou a primeira diligência no Juizado de Letras de Laja, onde ouviu depoimentos e confrontou ex-executivos da unidade industrial de Laja com os dez ex-carabineiros processados nessa causa, e também com testemunhas dos fatos.


Terminada essa diligência, a comitiva composta por oito veículos da PDI (Policia de Investigaciones de Chile), além do apoio de pessoal de Carabineiros, deslocou-se para a entrada da empresa, com a finalidade de saber como eram apartados os trabalhadores, quais deles lidavam com as listagens e se efetivamente pessoal policial da época ingressou nas instalações da empresa para realizar as detenções.


Ali, já se encontravam reunidos familiares e amigos das vítimas que, a viva voz, gritavam, ao ingresso dos veículos policiais, os nomes dos que tinham sido autores dessas execuções. Nesse local, se soube como foram detidos os trabalhadores entre os dias 11 e 17 de setembro de 1973. Os primeiros foram transferidos ao Regimento de Los Ângeles, enquanto os que foram detidos entre 15 e 17 de setembro foram levados ao destacamento da rua Las Viñas, na comuna de Laja, e posteriormente foram executados em uma área pertencente à empresa papeleira.

Em frente à empresa, dois trabalhadores mostraram ao ministro Aldana, com a presença de um ex-executivo, como eram identificados, retirados das filas e posteriormente golpeados, em um canto de acesso à CMPC, para logo em seguida serem retirados dali, em diferentes veículos. Com essas diligências, buscava-se deixar claro os vínculos que teriam a empresa e os altos executivos da mesma no ano desses acontecimentos.


 Posteriormente, as diligências se deslocaram para a rodovia Ruta 90, a 24 km de Laja, especificamente em um novo local, denominado Fundo San Ignácio, onde camponeses assinalaram onde seria o local exato em que ocorreram as execuções. Uma vez realizados todos os trabalhos investigativos, tomando-se os depoimentos tanto dos camponeses como dos ex-carabineiros, o ministro Carlos Aldana conversou com os meios de comunicação, assinalando que no local se pôde tomar conhecimento sobre “as formas como eram realizadas as detenções, quem as realizaram e que informações tinham para escolher as pessoas..” Consultado a respeito da responsabilidade que a empresa privada  ou civis poderiam ter nesses acontecimentos, respondeu que “toda a informação está sendo por nós processada, e essa não é uma questão que eu possa responder agora”.

Em relação ao local, que não é o mesmo onde foram foi realizada a reconstituição dos fatos há três anos, o ministro explicou que a ideia foi “estabelecer uma aproximação com local exato onde teria havido a execução dessas 19 pessoas”, verificando, com as novas informações, se efetivamente era aquele o local”.


Quanto ao prazo que possui para encerrar a investigação, disse que “se está  trabalhando com toda a celeridade que permitem nossas capacidades...” Carlos Aldana mostrou-se próximo aos familiares, permitindo-lhes conhecer em primeira mão algumas informações sobre o processo. Uma delas foi a declaração dos camponeses, afirmando saber onde se situava o local onde houve as execuções. Nesse sentido, o ministro acrescentou que “tem sido uma política adotada com todos os familiares e todas as agrupações que têm acesso às informações que nós temos. Para os familiares, que precisam ter a paz que qualquer pessoa necessita para saber onde e de que forma foram executados seus entes, é muito importante que eles estejam presentes nas diligências e saibam quais as informações que nós possuímos”.

Por sua parte, o diretor nacional da Brigada de Homicídios da PDI, Sergio Claramunt Lavín, conseguiu a participação de cerca de 25 funcionários do órgão na região, com o apoio de veículos e de seu Laboratório de Criminalística de Concepción, somando a perícia fotográfica, perimétrica e audiovisual para levar adiante as diligências solicitadas pelo ministro e que permitam esclarecer os acontecimentos ocorridos em setembro de 1973.

O diretor Claramunt expressou que “é uma investigação que vem sendo feita há anos, e conseguiu-se a cooperação de todas as pessoas nesta ação, e como se passou tanto tempo, devemos nos aproximar das pessoas para que possam cooperar, conseguimos boas informações e se pode assim estabelecer responsabilidades”, ressaltou. Com as informações levantadas na diligência, o ministro Aldana contará com novos elementos para decidir os próximos passos nesta investigação. 


tradução de Renzo Bassanetti

Mais informações sobre a "Chacina de Laja", e denúncias em relação a CMPC, no Chile:

Segue Informe Policial, da Polícia de Investigações do Chile (2011):
http://ciperchile.cl/wp-content/uploads/informepolicial.pdf
 

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