A reprimarização da economia
brasileira e a PEC 65: um retrocesso que nos leva de volta à década
de 1970. Entrevista especial com Eduardo Luis Ruppenthal
Por
Patricia Fachin - IHU (28-06-16)
“Esse é um momento difícil pelo qual o
país está passando e pode significar um profundo retrocesso em várias
conquistas constitucionais, avanços sociais e ambientais desde o processo de
redemocratização brasileira”, denuncia o biólogo.
Se aprovada, a Proposta de Emenda à
Constituição – PEC 65 irá “afetar” a atual legislação de licenciamento ambiental brasileira, ao permitir que obras sejam
realizadas “apenas com a apresentação de estudos iniciais pela própria empresa,
sem o cumprimento das demais etapas”, adverte Eduardo Ruppenthal à IHU On-Line.
Atualmente, o licenciamento ambiental
é determinado em três etapas: a Licença Prévia – LP,
a Licença de Instalação – LI e, por fim, a Licença de Operação – LO, mas “a PEC 65 propõe a extinção das duas últimas etapas,
eliminando uma série de prerrogativas fundamentais e importantes no que diz
respeito a direitos ambientais e sociais,
principalmente daqueles que são atingidos pela obra”, explica.
Na entrevista a seguir, concedida por
e-mail, Ruppenthal frisa que a PEC 65 está inserida num “contexto mais amplo, do
atual modelo brasileiro de uso, exploração e exportação dos recursos naturais,
formado principalmente pelo tripé agro-hidro-mineronegócio,
que não aceita ser regulado e não quer abrir mão de sua lucratividade máxima”.
A alteração na legislação, pontua, faz parte da proposta brasileira de
continuar investindo no modelo agroexportador e visa
“facilitar o escoamento dos recursos energéticos e as commodities agrícolas e
minerais, diminuindo os custos operacionais, ajustando a nossa economia aos
interesses do mercado globalizado e às empresas transnacionais”.
Eduardo Ruppenthal também lembra
que a “corrupção está inerente” às propostas de alteração
da legislação ambiental brasileira e à realização
de megaobras, como aconteceu durante o Regime Militar, com
a construção dahidrelétrica de Itaipu e a
construção da Transamazônica, e como ainda
acontece nos dias de hoje, com a construção de Belo Monte. “Além da convergência da visão de desenvolvimento
entre os governos e o setor privado, há uma relação mais promíscua que sempre
foi denunciada, mas agora está sendo elucidada com a Operação Lava Jato, embora antes não fossem poucas as
notícias e denúncias sobre favorecimentos às grandes empreiteiras e outras
empresas subsidiárias de insumos, como ferro, cimento e equipamentos
elétricos”, conclui.
Eduardo Luis Ruppenthal é biólogo e mestre em
Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Atualmente é professor da rede pública estadual.
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