Desde
23 de fevereiro de 2016, ficamos surpresos com a formação das duas Subcomissões
para Análise, Atualização e Aperfeiçoamento do Código
Estadual do Meio Ambiente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da
Assembleia Legislativa, com o objetivo
claro de copiar o processo que resultou, em nível Federal, na derrubada do
Código Florestal (lei 4771/1965) na Lei 12.561/2012 (Lei que rege a (des)proteção
à vegetação nativa).
Seus deputados
proponentes e os setores a eles associados, infelizmente, sempre estiveram
voltados para beneficiar a economia imediatista e as monoculturas e as grandes
empresas votadas prioritariamente às exportações e a venda de insumos, a
despeito da perda progressiva da
diversidade econômica e ambiental, necessária à sustentabilidade.
Audiências das Subcomissões da CCJ coordenadas pelos deputados Frederico Antunes (PP) e Elton Weber (PSB), ligados ao agronegócio insumodependente que não convive com a biodiversidade |
Os demandantes da mudança da legislação ambiental parecem não demonstrar conhecer
o processo longo (de anos) na construção destas conquistas decorrentes da Lei
11.520/2000 (Código Estadual do Meio Ambiente
) e Lei Est. 9.519/1992 (Código Florestal Estadual), e com isso devem desconhecer o cenário
dramático de destruição do Meio Ambiente e pelo jeito não consultaram os
protagonistas destas leis protetivas da natureza, que foram construídas nas décadas de 1990 e 2000.
Fica
também a pergunta: Por que somente a CCJ da AL está levando a termo esta
mudança? Por que a Comissão de Saúde e Meio Ambiente não faz parte da discussão
e não foi chamada para debater o tema? Ademais, consideramos um contrassenso
mudar o Código Florestal Estadual, já que existem ações de
inconstitucionalidade contra mais de 50 artigos da Lei 12651/2012 (Código
Florestal Federal) por parte da Procuradoria Geral da República (ADI 4901,
4902, 4903/2013) e do PSOL ADI 4937/2013, em análise no STF para dar decisão
até meados de 2016.
Devem
desconhecer, por exemplo, que entre 2002 e 2014 tivemos um aumento em mais de 30%
no número de espécies da flora ameaçada do RS. No Brasil, a situação também
é dramática: entre 2008 e 2014 aumentou
em quase 500% a lista oficial da flora ameaçada do Brasil. O Bioma Pampa
vem perdendo quase 70% de sua cobertura natural e a Mata Atlântica sobram menos
de 10% de remanescentes. Muitos de seus proponentes, agora depois das chuvas
intensas no bioma Pampa, lamentaram e obtiveram do Governo do Estado que
decretasse “Situação Calamitosa”, para cidades da Metade Sul que foram
atingidas por chuvas intensas e temporais fortes. “Situação Calamitosa” para
salvar o modelo de soja (insumo-dependente) que se expande desgraçadamente em
solos, climas impróprios e biodiversidade que não consegue conviver com estes
desertos verdes que crescem sem parar.
Apesar
das equipes técnicas capacitadas da SEMA, a secretaria não possui pessoal
suficiente e tampouco as informações necessárias para aferir a capacidade de
suporte dos níveis de poluição e degradação ambiental das diversas atividades. No
que se refere à qualidade do ar, a FEPAM tem seu sistema de monitoramento do ar sucateado. Os rios dos Sinos e Gravataí possuem situação
crítica e sem solução para enfrentar a poluição descontrolada, sem
programas de recuperação de parte da Secretaria de Meio Ambiente. A mesma
administração da SEMA que tem feito vistas grossas à degradação do Pampa e da
Mata Atlântica, bem como às espécies de peixes marinhos. O RS foi o último Estado
no Cadastro Ambiental Rural. Os órgãos ambientais, nos três níveis, estão
desestruturados, não possuem programas e carecem de dados das Listas Oficiais das Espécies de
Flora e Fauna Ameaçadas para a gestão da Biodiversidade e também como condição
para os licenciamentos inclusive municipais, bem como programas para enfrentar
uma situação que se agrava no mundo.
Sem as
informações do estado de conservação da biodiversidade e da capacidade de
suporte de atividades de impactos negativos e potencialmente sinérgicos,
estaremos mudando leis no escuro
e colocando mais risco ambiental a todos!
Ou seja, sem a base de dados necessária para predizermos as consequências
futuras de atividades degradadoras que se avolumam, em um contexto de mudanças
climáticas e de expansão de destruição ambiental em período já denominado de
Antropoceno e de Sexta Extinção em Massa, estaremos plantando campos minados
para o nosso futuro incerto.
Consideramos injustificável esta Mudança. Se
crescem as lacunas de conhecimento fundamentais para a avaliação da viabilidade
ambiental de vários empreendimentos e atividades, devemos dar sinal vermelho
para estas alterações.
Sem a definição de prioridades ambientais do Estado, sem programas ambientais, a
demanda imediatista ameaça destruir o pouco que restou de remanescentes e de
qualidade ambiental, devemos não aceitar este processo, evidentemente, ilegítimo.
Assim
sendo, o Ingá (Instituto Gaúcho de
Estudos Ambientais) considera este processo de tentativa de flexibilização de
leis ambientais, que é levado por estas Subcomissões, como um injustificável
retrocesso, e deveria ser sustado até que se conheça a realidade ambiental do
Estado. A manutenção deste processo de destruição de leis fundamentais à vida deveria levar seus agentes públicos proponentes a uma Ação por Responsabilização (Irresponsabilidade) Ambiental, com punição exemplar!
Paulo Brack - Instituto Gaúcho de
Estudos Ambientais (02-05-2016)
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