A humanidade e a biodiversidade passam por momentos tremendamente
graves. Temos, neste milênio, os 15 anos com as temperaturas mais
elevadas da história. O ano de 2015 foi o que registrou maior temperatura média da
atmosfera já vista em nosso planeta. E isso vem acompanhado, cada vez mais, de
eventos climáticos extremos, como tempestades, enchentes e secas. As emissões
de gases de efeito estufa seguem crescendo. O gás carbônico - que representa 53%
dos GEE - já ultrapassou mais de 400 ppm -
partes por milhão - de CO2) na atmosfera da Terra. Os demais GEE, derivados de
combustíveis fósseis como o CH4 (metano), o N20 (óxido nitroso) e o CFC
(clorofluorcarbono), também crescem seus níveis na atmosfera.
Padecemos de um modelo perdulário e energívoro baseado em
combustíveis fósseis e também em hábitos criados pela chamada sociedade de
consumo, levada a adquirir produtos com obsolescência programada. O uso
energético do petróleo, do carvão mineral e das hidrelétricas representa a
mesmice de investimentos em grandes fontes de gases de efeito estufa e
altamente poluentes. Os reservatórios das hidrelétricas, ao contrário do senso
comum, não são fontes limpas, pois extinguem peixes de piracema, destroem matas
ciliares e são também responsáveis pela emissão de grande quantidade de gás metano.
A Biodiversidade mundial passa pela Sexta Extinção em
Massa, agora de origem antrópica, melhor dizendo,
econômico-crematística. A Biosfera sofre o rompimento de seus ciclos, de forma
alarmante, derivada da economia neoclássica que reina esquecendo-se de
contabilizar os custos ambientais do esgotamento dos recursos naturais e da
poluição. A crise ecossistêmica resulta de se ultrapassar a capacidade de
suporte dos sistemas naturais da Terra. Sonega-se o custo da não reciclagem, do
aumento da água poluída, da derrubada da floresta ou dos campos biodiversos,
como no caso do Pampa, convertidos em sistemas simplificados e disfuncionais,
onde impera a acumulação de terras e de grãos em grande escala.
Os países periféricos, como o Brasil, vivem da exportação de
matérias primas (commodities), como o
minério de ferro, o petróleo, os grãos. Temos uma agricultura altamente
dependente de insumos e biocidas e outros produtos derivados do petróleo - este
com seus dias contados – sofrendo múltiplos efeitos colaterais desconsiderados,
como a perda de água, perda de biodiversidade e de solos, emissão elevada de
GEE, intoxicação por agrotóxicos. Uma agricultura de “precisão”, pois precisa
de insumos e de subsídios do governo.
No Brasil, a agricultura empresarial consome mais de 200 bilhões
de reais de programas do governo federal, que poderiam ser usados em
diversificação e em atividades produtivas mais sustentáveis. A balança
comercial é favorecida pela soja. Mas não se fala da reprimarização da economia
brasileira que esteve associada à desindustrialização nacional. Tampouco se fala
nas consequências, como secas, chuvas intensas e o preço flutuante
internacional das commodities. A história já avisou: o Brasil sofreu imensos
desastres econômicos e ambientais associados a quebras de safra ou de mercado
de monoculturas de cana e café. São Paulo ficou recentemente sem água. Por quê?
A água depende das florestas e de vegetação natural. A resiliência depende da
diversidade!
O modelo econômico privilegia a vulnerabilidade, favorecendo o
capital financeiro e as grandes corporações. É imposto à sociedade um modelo mundial
do século passado, que privilegia 1% da
população do planeta que detém 99% da riqueza mundial. Desigualdades sociais
também são desequilíbrios ambientais, que compartilham causas comuns.
Neste modelo, retomado pela volta do neoliberalismo, é impossível
buscar-se o equilíbrio ecológico. Como diz Michael Lowy, o modelo atual, que
sofre da obsessão pelo crescimento econômico ilimitado (para poucos), pode ser
comparado como um trem descontrolado em direção ao abismo. E somos seus
passageiros, submetidos à retomada da aceleração deste trem, ajustado para
favorecer ainda mais a primeira classe! Portanto, a crise sistêmica requer
atenção e ações emergenciais!
Necessitamos de desacelerar a economia suicida, como bem diz o
economista e filósofo Serge Latouche, investindo em fontes renováveis e mais
sustentáveis como as energias solar, eólica, e aquelas derivadas de resíduos
biológicos (biogás e outras formas de transformação de bioenergia). Isso requer
mais pesquisas e incentivos governamentais.
Temos que enfrentar estes múltiplos processos que estão rompendo o
funcionamento da natureza. Também temos que enfrentar os retrocessos na área da
desregulamentação trabalhista, ambiental e dos direitos sociais. A legislação
ambiental brasileira tem conquistas que devem ser defendidas contra ataques
parlamentares e tentativas de mudanças que correspondam a profundos retrocessos.
A integração de ações com aqueles que mais precisam de atenção, no caso a
população pobre, também é urgente!
Substituir as armadilhas das palavras “competitividade” e
“inovação de mercado” por cooperação e resgate da sustentabilidade, dentro de
uma universidade socialmente referenciada. Queremos maiores incentivos às pesquisas
com as policulturas de produtos orgânicos e agroecológicos e, paulatinamente, vermos
a substituição dos combustíveis fósseis por outras fontes renováveis e
sustentáveis. Precisamos de desconcentração de terras e de incorporação de
agrobiodiversidade, sem patentes privadas sobre seres vivos.
Nas universidades, poder-se-ia dar um salto nisso no âmbito da
aquisição dos produtos para as refeições dos restaurantes universitários (RUs) que
podem e devem ser adquiridos, de forma justa, como meta de se atingir 100% dos
alimentos consumidos pela comunidade universitária de parte da agricultura
familiar e ecológica. Mais feiras de orgânicos e produtos agroecológicos em
nossos Campi!
Acreditamos que uma necessária transição para um mundo sustentável
passará, obrigatoriamente, por conhecermos melhor nossa biodiversidade, nosso
ambiente e investirmos na responsabilidade socioambiental de parte das
universidades, centros de pesquisa e demais órgãos públicos, mudando hábitos e incorporando
diálogos e trocas de saberes entre a população e a comunidade acadêmica.
Acreditamos no incremento nas ações de educação ambiental em
parcerias entre universidades e escolas. Temos que lutar por integração em
ensino, pesquisa e extensão (comunicação) dentro de um outro paradigma, menos
produtivista e longe da tecnociência de mercado, que vislumbre um mundo compatível com a vida
diversa para as gerações atuais e futuras, sem abdicar de nossa excelência. Um
mundo que dê destaque às tecnologias sociais e cooperativas no campo e na
cidade!
A mudança passa por democracia e reflexão quanto ao atual quadro
de crise socioambiental para encontrarmos caminhos via modelos que reconectem
os seres humanos entre si e com a natureza. E a nossa Universidade Federal do
Rio Grande do Sul deve ter um papel de destaque nisso, definitivamente.
Para isso, é importante a construção de um Plano Diretor que
defina a expansão, com respeito às áreas verdes e à qualidade ambiental,
conjugado a uma Política Ambiental de gestão integrada e comprometida com
sustentabilidade. Implantação de uma política que implique em uso racional de
energia, água e materiais, com reciclagem, espaços de convivência com a
natureza, com forte incremento em saneamento. Pela criação definitiva de uma
Unidade de Conservação do Morro Santana, aliando pesquisa, aulas de graduação, extensão
e educação ambiental, com segurança e estrutura compatíveis.
Por
isso, tendo em vista o processo eleitoral para a Reitoria da UFRGS, no dia 16
de junho, recomendamos, por parte da comunidade universitária, o voto na
Chapa 1, “Virada, Plural e Democrática”, composta pelos candidatos a
Reitor, Carlos Alberto Gonçalves, e a vice, Laura Verrastro, já que
estes colegas comungam das mesmas preocupações e se comprometerão com um processo
coletivo que construa maior sustentabilidade ambiental tanto internamente como
em conjunto com a sociedade.
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