Brasília 20 de maio de 2014 (Centro de Retiros, Arquidiocese de
Brasília, DF)
O Fórum
Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (FBOMS), reunido nos dias 19 e 20 de maio de 2014, em Brasília,
vem a público alertar a população e o governo para o aprofundamento da crise
socioambiental por que passa o País. Este panorama já foi destacado em junho de
2012, durante a Cúpula dos Povos e Rio + 20, no documento “Brasil na contramão
do desenvolvimento sustentável: o desmonte da agenda socioambiental”.
Hoje, vemos
a retomada agressiva de um ambiente de negócios corporativos, associado a
megaeventos da Copa, agravando, por exemplo, os impactos já gerados pela
implantação de megainfraestrutura de exportação de matérias primas (minérios e
grãos), interconectada a políticas de incentivo ao consumo crescente e de forma
insustentável. Para completar o quadro, a legislação socioambiental vem sendo
destruída para maximizar a lucratividade de grandes setores que não veem
limites aos seus negócios.
O modelo de crescimento econômico, mesmo que tenha apresentado
alguns resultados na redução da desigualdade social no Brasil, foi realizado
com base na expansão de atividades reconhecidamente incompatíveis com a
necessária atenção ao papel estratégico de nossa sociobiodiversidade e do patrimônio natural brasileiro para a
melhoria da qualidade de vida da sua população.
Os relatos
dos representantes de entidades e movimentos de todas as partes do Brasil dão
conta de um cenário de destruição, decorrente do prosseguimento das grandes
obras de infraestrutura, concentradoras e de alto impacto socioambiental, que vem
comprometendo ainda mais o que resta dos biomas brasileiros e de seus serviços
ambientais. Uma infraestrutura que, além de retomar as poluentes usinas
térmicas a carvão mineral, incrementa megahidrelétricas em rios localizados nas
Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade (Port. N. 9, MMA,
2007), e que também atingem os territórios de povos Indígenas e outras
populações tradicionais, sem o devido processo de consulta livre, prévia e
informada.
No campo,
constata-se ainda a expansão da fronteira agrícola, via monoculturas
quimicodependentes, sob a batuta daqueles que patrocinaram os retrocessos no
Código Florestal. Da mesma forma os grandes projetos de mineração, sob a sombra
de um novo Código Minerário, ameaçam populações tradicionais, em vulnerabilidade
crescente. De outra parte, a PEC 215 que engessa a delimitação de terras
indígenas e quilombolas é colocada na mesa por políticos do agronegócio e da
mineração, muitos deles financiados, nas últimas campanhas eleitorais, por
empresas que vêm degradando a natureza e se beneficiam de tudo isso.
Na cidade, a
qualidade de vida está agravada pela especulação imobiliária desenfreada
associada ao grave problema da moradia, pela falta de mobilidade, escassez de água
potável e por uma carga de poluentes de todos os tipos, gerada por atividades
que não têm controle por parte dos órgãos ambientais. A expansão da atividade
industrial ocorre sem a observância dos compromissos e dos programas voltados a
evitar e mitigar os riscos associados ao uso, produção e comercialização de
produtos e substâncias químicas perigosas e persistentes.
Percebe-se
que nos 24 anos de criação do FBOMS o contexto socioambiental nunca foi tão
crítico. Esta situação não é exclusividade brasileira. No mundo inteiro, as
políticas governamentais, ligadas à economia hegemônica em âmbito global, após
a crise financeira de 2008, retomam o papel do Estado como indutor do velho
paradigma e das falsas saídas baseadas no crescimento econômico e nos mercados
mundializados. Isto se dá com enormes custos e ataques às políticas sociais, ao
meio ambiente e, em especial, às populações tradicionais.
Do ponto de
vista da democracia, o modelo de representação político-partidária, que não
mais responde às expectativas da população, está em colapso e exige uma
profunda reforma política, sob controle da sociedade. Lutamos por um processo
que rompa definitivamente com os financiamentos privados de campanha, que são,
hoje, amparados por grandes setores econômicos internacionais e nacionais, que
mais degradam a Natureza e os direitos sociais. Lutamos por um processo de
participação inclusivo e permanente, que construa um projeto nacional de
ecossoberania e sustentabilidade socioambiental.
Apelamos à
sociedade brasileira no sentido de reafirmar a vocação do Brasil, um país
megadiverso, denunciando as tentativas de retrocesso, apoiando e fortalecendo
os movimentos sociais e entidades socioambientalistas, que têm um papel
fundamental no processo de avanço necessário nas políticas públicas para as
presentes e as futuras gerações.
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