O InGá - Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais teve contemplado um projeto de estudos de espécies raras e ameaçadas nos rios da região nordeste do Rio Grande do Sul, por meio do edital de março de 2013, promovido pela Fundação Boticário de Proteção à Natureza. O estudo iniciou-se em setembro de 2013 visando reconhecer as espécies ripárias (de margens inundáveis dos rios), com especial atenção aquelas que sofrem maior ameaça e estão localizadas no futuro Corredor Ecológico rio Pelotas-Aparados da Serra (resultado do Termo de Compromisso que proporcionou a licença de operação para a hidrelétrica de Barra Grande), nas regiões nordeste e norte do RS.
A
bacia do rio Pelotas localiza-se na cabeceira da bacia do rio Uruguai. A
malha de cursos d’água na região reúne um contingente bem expressivo de
espécies ripárias endêmicas tanto da flora como da fauna. Algumas são
exclusivas dos vales dos rios e sofrem diretamente a oscilação dos
cursos de água, sendo consideradas reófitas, ocorrendo tanto em áreas
de declive acentuado (afloramentos rochosos) como em margens de curso
d’água, sofrendo inundações periódicas.
Esta
região está sendo alvo de um conjunto de empreendimentos hidrelétricos e
também de plantios de pinus quase até a margem de rios, que estão
comprometendo os habitats das mesmas. Atualmente é enorme a lacuna de
conhecimento sobre os vários grupos florísticos bem como o conhecimento
do estado de conservação da maioria das espécies. Plantas herbáceas
geralmente não entram com peso nos estudos de impacto ambiental. Porém
sua limitação ou seletividade a estes ambientes particulares é motivo de
grande importância.
O
projeto desenvolve levantamentos florísticos e ecológicos dos
microhabitats dos grupos mais sujeitos a ameaças, baseados nas listas da
flora ameaçada do Ministério de Meio Ambiente (Instrução. Normativa N.6
de 23/09/2008) e na lista da flora ameaçada do Rio Grande do Sul
(Decreto 42.099, de 31 de dezembro de 2002). Neste caso verifica-se a
presença de plantas exclusivas e raras, ou preferenciais, para estes
habitats, destacando algumas plantas como as “pileas” (Pilea sp..) da família Urticaceae, os lírios amarelos (Zephyranthes sp.) das Amarillidaceae, as bromélias-dos-lajeados (Dyckia spp.) da família Bromeliaceae, as sete-sangrias-do-campo (Cuphea spp.)
das Lythraceae, entre outras. No total, pelo menos, já foram
encontradas mais de 50 espécies ripárias (exclusivas, preferenciais ou
ocasionais) nas excursões de campo realizadas na região do projeto.
O
material obtido e identificado é confrontado com as listas oficiais das
espécies ameaçadas, e os resultados das análises contribuirão para a
reavaliação da Lista da Flora Ameaçada do Rio Grande do Sul e serão
encaminhados também aos responsáveis pela Flora Ameaçada do Brasil. Da
mesma forma, o projeto visa levantar a questão da urgência de se trazer
a temática do risco de extinção de plantas ripárias antes da emissão de
licenças a empreendimentos hidrelétricos. Infelizmente o tema ainda não
entrou na preocupação dos órgãos ambientais pela ausência de
conhecimento do tema por parte dos gestores e planejadores de
empreendimentos deste tipo, além da pressão do setor econômico e
governamental que pede celeridade às licenças ambientais a estes
empreendimentos.
Após
as excursões de coleta realizadas, o material identificado é
herborizado e sofre depósito no herbário ICN do Departamento de Botânica
da UFRGS. Da mesma forma, estão sendo preparados seminários sobre o
tema a fim de avaliar os resultados conjuntamente na atualização das
listas de flora ameaçada e também material de divulgação e palestras com
comunidades locais para mostrar a importância do tema.
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