sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Espécies ripárias raras e ameaçadas da flora do Corredor rio Pelotas - Aparados da Serra

O InGá - Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais teve contemplado um projeto de estudos de espécies raras e ameaçadas nos rios da região nordeste do Rio Grande do Sul, por meio do edital de março de 2013, promovido pela Fundação Boticário de Proteção à Natureza. O estudo iniciou-se em setembro de 2013 visando reconhecer as espécies ripárias (de margens inundáveis dos rios), com especial atenção aquelas que sofrem maior ameaça e estão localizadas no futuro Corredor Ecológico rio Pelotas-Aparados da Serra (resultado do Termo de Compromisso que proporcionou a licença de operação para a hidrelétrica de Barra Grande), nas regiões nordeste e norte do RS.

Rio Lava Tudo, afluente do Rio Pelotas, uma das áreas onde o estudo é realizado.



A bacia do rio Pelotas localiza-se na cabeceira da bacia do rio Uruguai. A malha de cursos d’água na região reúne um contingente bem expressivo de espécies ripárias endêmicas tanto da flora como da fauna. Algumas são exclusivas dos vales dos rios e sofrem diretamente a oscilação dos cursos de água, sendo consideradas reófitas, ocorrendo tanto em áreas de declive acentuado (afloramentos rochosos) como em margens de curso d’água, sofrendo inundações periódicas.
Afloramentos rochosos na margem do Rio Lava Tudo, microhabitat para muitas espécies da flora, adaptadas ao curso do rio e à periódicas inundações.
Esta região está sendo alvo de um conjunto de empreendimentos hidrelétricos e também de plantios de pinus quase até a margem de rios, que estão comprometendo os habitats das mesmas. Atualmente é enorme a lacuna de conhecimento sobre os vários grupos florísticos bem como o conhecimento do estado de conservação da maioria das espécies. Plantas herbáceas geralmente não entram com peso nos estudos de impacto ambiental. Porém sua limitação ou seletividade a estes ambientes particulares é motivo de grande importância.

O projeto desenvolve levantamentos florísticos e ecológicos dos microhabitats dos grupos mais sujeitos a ameaças, baseados nas listas da flora ameaçada do Ministério de Meio Ambiente (Instrução. Normativa N.6 de 23/09/2008) e na lista da flora ameaçada do Rio Grande do Sul (Decreto 42.099, de 31 de dezembro de 2002). Neste caso verifica-se a presença de plantas exclusivas e raras, ou preferenciais, para estes habitats, destacando algumas plantas como as “pileas” (Pilea sp..) da família Urticaceae, os lírios amarelos (Zephyranthes sp.) das Amarillidaceae, as bromélias-dos-lajeados (Dyckia spp.) da família Bromeliaceae, as sete-sangrias-do-campo (Cuphea spp.) das Lythraceae, entre outras. No total, pelo menos, já foram encontradas mais de 50 espécies ripárias (exclusivas, preferenciais ou ocasionais) nas excursões de campo realizadas na região do projeto.

Levantamento das plantas reófitas em amostragem e parcelas nas áreas de estudo.

O material obtido e identificado é confrontado com as listas oficiais das espécies ameaçadas, e os resultados das análises contribuirão para a reavaliação da Lista da Flora Ameaçada do Rio Grande do Sul e serão encaminhados também aos responsáveis pela Flora Ameaçada do Brasil. Da mesma forma, o projeto visa levantar a questão da urgência de se trazer a temática do risco de extinção de plantas ripárias antes da emissão de licenças a empreendimentos hidrelétricos. Infelizmente o tema ainda não entrou na preocupação dos órgãos ambientais pela ausência de conhecimento do tema por parte dos gestores e planejadores de empreendimentos deste tipo, além da pressão do setor econômico e governamental que pede celeridade às licenças ambientais a estes empreendimentos.
Após as excursões de coleta realizadas, o material identificado é herborizado e sofre depósito no herbário ICN do Departamento de Botânica da UFRGS. Da mesma forma, estão sendo preparados seminários sobre o tema a fim de avaliar os resultados conjuntamente na atualização das listas de flora ameaçada e também material de divulgação e palestras com comunidades locais para mostrar a importância do tema.

O projeto tem financiamento da Fundação Boticário de Proteção à Natureza, tendo sido contemplado por meio de seleção do Edital 1/2013

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